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Author: Pedro Lucas Porcellis <porcellis@eletrotupi.com>

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@@ -0,0 +1,96 @@
+---
+title: "Protonmail e a Falsa Privacidade"
+date: 2021-09-24
+draft: false
+tags: ["opiniao", "privacidade"]
+---
+
+Eu gosto de e-mail enquanto forma de comunicação, em especial por três fatores:
+(1) é construído em cima de protocolos abertos (2) é, de certa forma universal,
+sendo a porta de comunicação digital mais acessível e simples (3) existe à pelo
+menos 50 anos. Com esses fatores em mente, é natural que usuários tenham uma
+necessidade real que não foi largamente pensada originalmente: privacidade,
+afinal, email por si só é um protocolo que — pelo menos originalmente — envia
+apenas texto.
+
+Existem algumas abordagens para se conseguir comunicação privada usando email,
+mas nenhuma é muito simples e quando se apresenta como simples, eu sempre fico
+desconfiado. Nessa semana por exemplo, saiu a notícia que um ativista foi preso,
+quando o Protonmail ~~deixou vazar~~ entregou o endereço IP (que por sua vez
+pode-se chegar na localização) desse tal ativista. A questão é, que o Protonmail
+se vende como se fosse **a** "forma segura de enviar email", "retome sua
+privacidade", "não deixe ninguém espiar o conteúdo dos seus emails". De certa
+forma, posam como uma tecnologia incrível & inovadora da qual resolve com uma
+interface simples e amigável o grande monstro que é enviar emails com
+privacidade.
+
+Algumas pessoas diriam que isso é uma estratégia conhecida lá na gringa como
+_Embrace, Extend, Extinguish_ e talvez seja. Essa tática trabalha na perspectiva
+de adotar uma tecnologia já existente, "melhorar" ela e eventualmente quando uma
+grande parte dos usuários estiverem utilizando essa tecnologia "melhorada",
+extingue-se a antiga, trancafiando os usuários nessa versão nova, proprietária.
+
+Uma das armas mais utilizadas nessa estratégia, é o marketing. A proposta é
+introjetar na cabeça dos usuários que para comunicar de forma privada, você
+precisa ter um email do Proton — afinal todo o resto é arcaico e complexo — e
+pouco faz menção ao fato que eles utilizam protocolos e tecnologias padronizadas
+já existentes. Tecnologias inclusive que qualquer pessoa com um computador pode
+utilizar: basta gerar uma chave de criptografia PGP [^1] e distribuir a sua
+chave pública para que as pessoas possam enviar um email criptografado para ela,
+por exemplo.
+
+Além do marketing, é claro, tem também a falta de comunicação transparente. Ao
+contrário de outros provedores como o Gmail que práticamente torna impossível
+enviar um email criptografado, Protonmail até permite, mas não o torna fácil. A
+única documentação a respeito, está escondido em uma FAQ (Lista de perguntas
+frequentes), no meio da documentação oficial e sequer está traduzida. Além
+disso, o Proton faz você sentir que está cometendo um erro, mostrando mensagens
+na tela de forma a induzir você a não fazer isso, quase como se estivesse
+gritando: "não faça isso, ao invés disso, convide-o para se juntar à família
+Proton".
+
+Além disso, fazer falsas promessas de que eles não guardam nenhuma informação,
+contudo esse caso nos mostra que, sim eles guardam seu IP, sabe-se lá o que
+mais.
+
+E o pior problema de todos, é que essas pessoas que utilizam esse serviço, já
+estão com seus emails sequestrados, afinal para utilizar o Protonmail você
+precisa criar uma conta que te disponibiliza um email `fulano@protonmail.com`.
+
+Ou seja, se você quiser e precisar migrar para outro domínio, ou outro serviço,
+tens que garantir que todos os teus contatos e todos os lugares que
+possívelmente queiram entrar em contato com você saibam do seu novo email, o que
+não aconteceria se você utiliza um domínio próprio para email
+(`fulano@meudominio.com.br`).
+
+Esse último ponto eu considero grave, porque te priva de conseguir migrar entre
+provedores. Se você se sentir ameaçado ou achar que não quer mais usar o
+Protonmail, você tem um trabalho longo pela frente para conseguir sair do
+serviço, o que em geral faz as pessoas permanecerem, mesmo que não queiram mais
+utilizar.
+
+A solução, infelizmente, não é simples. Privacidade e criptografia é um direito
+fundamental, e ele com certeza não deve estar nas mãos de empresas e
+corporações. A forma mais simples, mesmo que pareça um absurdo, é de
+organizações hospedarem seu próprio serviço de email, dentro do seu domínio e
+usuários criarem e distribuirem as suas chaves públicas.
+
+Sim, você pode hospedar seu próprio servidor de email, basta ter um servidor e
+um domínio na internet. Sei que isso parece uma tarefa herculiana, mas não é. A
+escolha aqui está mais ligada a decisão entre praticidade versus segurança.
+Conforto versus privacidade.
+
+Se organizações querem lidar com a questão de email, a melhor forma é trabalhar
+em conjunto para construir ferramentas abertas que permitam o ecosistema
+florescer, trabalhar para criar processos, protocolos e utilitários que tornem
+mais simples alguém hospedar seu próprio email. A lógica é construir pontes para
+independência e não levantar muros "seguros".
+
+[^1]: Diversos clientes de email, como o mutt, Mozilla Thunderbird, oferecem de
+  forma transparente acesso à criptografia PGP, afinal PGP já existe há 30 anos,
+  e seu formato padronizado e aberto pode ser lido no RFC 4880 (em 88 páginas),
+  implementações existem à rodo e sua variante mais famosa é o GNU PGP, ou `gpg`
+  que provavelmente já está instalado em seu computador, seja ele Linux, BSD ou
+  macOS. O único que como sempre, fica de fora da festa é o Windows, que
+  necessita do programa `gpg4win` instalado, apesar que ele tem uma interface
+  gráfica simples e intuitiva ao contrário dos seus irmãos do Unix.