Author: Pedro Lucas Porcellis <porcellis@eletrotupi.com>
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content/blog/alternativas-new-pipe.md | 90 +++ content/blog/atualizacao-status-marco-2020.md | 119 ++++ content/blog/autonomia-e-programadores.en.md | 49 + content/blog/autonomia-e-programadores.md | 51 + content/blog/em-uma-era-online-arquive-tudo-offline.md | 70 ++ content/blog/feed-rss.md | 81 +++ content/blog/gerencia-de-projetos.md | 77 ++ content/blog/markdown.md | 47 + content/blog/meu-primeiro-post.md | 17 content/blog/mutt.md | 60 ++ content/blog/o-deus-algoritmo.md | 113 ++++ content/blog/o-potencial-da-federacao.md | 115 ++++ content/blog/porque-eu-uso-vim.md | 107 ++++ content/blog/primeiramente-man.md | 67 ++ content/blog/que-pasa-abril-2020.md | 76 ++ content/blog/que-pasa-agosto-2020.md | 68 ++ content/blog/que-pasa-dezembro-2020.md | 59 ++ content/blog/que-pasa-julho-2020.md | 59 ++ content/blog/que-pasa-novembro-2020.md | 46 + content/blog/que-pasa-outubro-2020.md | 48 + content/blog/que-pasa-setembro-2020.md | 39 + content/blog/senhas.md | 179 ++++++ content/blog/signal-e-mais-seguro.md | 313 ++++++++++++ content/blog/sobre-o-bem-da-terra.md | 45 + content/blog/sobre-processos.md | 43 + content/blog/vegetarianismo.en.md | 82 +++ content/blog/vegetarianismo.pt-br.md | 75 ++
diff --git a/content/blog/alternativas-new-pipe.md b/content/blog/alternativas-new-pipe.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..ff66a967c9f688380ad2bb1b0f9a933186453291 --- /dev/null +++ b/content/blog/alternativas-new-pipe.md @@ -0,0 +1,90 @@ +--- +title: "Alternativas: New Pipe" +date: 2020-08-18 +tags: ["alternativas", "software-livre", "recomendacoes"] +--- + +Esse é o primeiro artigo inaugural dessa série que eu venho pensando em +fazer já faz um tempo, chamado Alternativas. Quero usar ela para +demonstrar algumas opções de software livre que são alternativas a suas +contrapartidas proprietárias ou mais conhecidas. + +Hoje, falaremos sobre uma alternativa bem interessante e bem +representativa do potencial do movimento software livre, uma alternativa +ao aplicativo oficial do YouTube chamado NewPipe. + +Eu acredito que ele representa muito o potencial do movimento software +livre, por conta da vasta gama de funcionalidades que ele disponibiliza sobre +o aplicativo oficial, permitindo assistir os vídeos sem anúncios, +escutar uma "versão de áudio" dos vídeos, ver os vídeos em perspectiva +— assistir o vídeo em uma janela arrastavel enquanto usa outros +aplicativos no celular —, além de todas as opções básicas como +subscrever, dar like, comentar vídeos, se inscrever em um canal sem +precisar de uma conta do YouTube/Google, poder baixar um vídeo ou uma +faixa de áudio do mesmo, ver os vídeos em ordem cronológica (tchau +[algoritmo][alg]) e até mesmo importar e exportar as suas inscrições. + +[alg]: https://porcellis.com/o-deus-algoritmo + +Isso são tudo opções que, além de serem convenientes, são opções pagas do +YouTube, por 20 reais por mês. + +Na minha visão, isso torna o NewPipe um caso de estudo perfeito, porque +demonstra claramente o quanto os nossos valores são diferente dos +valores de softwares proprietários, _de tal maneira que torna o NewPipe +muito melhor que o aplicativo oficial, simplesmente porque é focado nas +qualidades que o **usuário quer** e existe pra tornar a vida dos seus +usuários melhor e mais facil, tudo isso de graça_. + +Esse modelo _centrado no usuário_ é o que difere do aplicativo oficial. +Um modelo que busca moldar a relação de software com usuário, pensando +justamente naquilo que é benéfico para o usuário, sem _dark patterns +(padrões obscuros)[^padroes-obscuros]_, trabalhando na ideia de permitir +que todo mundo possa usar as funcionalidades, que são em certa medida, +básicas ou de um interesse comum para os usuários (escutar aquele lo-fi +enquanto estuda, ou poder assistir o vídeo enquanto navega em outro +aplicativo). Também vale mencionar o fato de que o aplicativo do YouTube +está constantemente adquirindo dados sobre você através de _tracking +e analytics_ e como você usa o aplicativo de forma a pensar e moldar +o aplicativo a sempre colocar os interesses *deles* sobre os seus, +enquanto o NewPipe nunca sequer se preocupa com isso [^codigo-fonte]. +O aplicativo proprietário explora os usuários enquanto o NewPipe +e o software livre empodera (odeio esse termo) os usuários. + +[^padroes-obscuros]: Dark Patterns é um tipo de "técnica" adotado em em + interfaces de usuário para induzir o usuário a fazer algo indesejado + ou impedir de fazer algo, como por exemplo ocultar detalhes, forçar + o usuário a passar por diversos processos para realizar uma ação ou fazer + com que itens não relacionados sejam parecidos. +[^codigo-fonte]: Justamente por termos acesso ao código fonte dele + e dele ser construído colaborativamente é que podemos afirmar isso, + enquanto o aplicativo proprietário, não. + +Evidentemente, existem diversas razões, tanto políticas quanto +filosóficas acerca do porque precisamos usar e dar suporte a software +livres. E acredito que a melhor forma, é justamente dessa, de mostrar +que o aplicativo construído para os usuários é simplesmente melhor, mais +simples, e oferece tudo aquilo que um usuário quer naquela plataforma +sem exploração, auditavel e gratuito. + +## Sobre o Projeto + +O projeto começou pelo Christian Schabesberger e é co-mantido por uma +equipe de seis voluntários, além de ter mais de 478 colaborações +[^colaboradores] de +usuários por todo globo. + +O aplicativo está [disponível no +F-Droid](https://f-droid.org/packages/org.schabi.newpipe/) para download +e pesa apenas **7.4MB ao contrário dos 144MB do aplicativo oficial**. + +O projeto está sob a licença +[GNUv3](https://www.gnu.org/licenses/quick-guide-gplv3.pt-br.html) +e pode-se ler sobre o projeto e conhecer o código-fonte dele +[aqui](https://github.com/TeamNewPipe/NewPipe). + +O NewPipe é um ótimo representante do porque devemos dar suporte +e continuar a construir uma perspectiva voltado ao movimento software +livre. + +[^colaboradores]: https://github.com/TeamNewPipe/NewPipe/graphs/contributors diff --git a/content/blog/atualizacao-status-marco-2020.md b/content/blog/atualizacao-status-marco-2020.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..f1d7eda3290af38368387b7039a640eff566de21 --- /dev/null +++ b/content/blog/atualizacao-status-marco-2020.md @@ -0,0 +1,119 @@ +--- +title: "¿Que Pasa? Março, 2020" +date: 2020-03-18 +tags: ['que-pasa', 'atualizacao', 'livros', 'projetos'] +--- + +Está chovendo. Estou sentado na minha mesa com a janela aberta, enquanto +um pós chuva e uma tarde cinza começam a surgir. Com a minha gata no meu +colo, escutando essa besta de album da Agnes Obel "Aventine" serve como +pano de fundo pra todas as coisas estranhas que estão acontecendo no +globo. + +Veja, eu não estou com medo, apesar que eu estou em quarentena por +enquanto. Desde a última sexta eu tenho tido uns sintomas de uma espécie +de gripe, tipo tossindo o tempo inteiro, espirrando e com a garganta +doendo demais. Talvez eu esteja com o tal do Covid-19? Não sei. + +De qualquer forma, eu vou tentar resumir todas as coisas que aconteceram +nos ultimos três meses. Vamos? + +## Estudos + +Então, eu tenho feito bastante pesquisa e leituras nos ultimos três +meses. Na verdade, eu tenho me sentido bem melhor justamente por conta +disso, afinal eu já nem lembrava mais o que era ler um texto em um +livro. + +No seio da minha família, eu era aquele que gostava de ler _mais que os +outros_, mas não era algo que se considerasse um "leitor". Então não +apenas eu estava desacostumado como eu ainda estou progredindo bem +lentamente. + +Eu já tinha esquecido quanto prazer a gente tem de ler um livro. +Especialmente quando são livros que respondem diversas perguntas +profundas como os que eu tenho me atolado. + +Tenho conhecido bastante sobre a **Revolução Africana** do séc. XX, +através dos trabalhos de Thomas Sankara, Frantz Fanon e Samora Machel. +Aliás, o artigo dele _"Estabelecer o Poder Popular para servir as Massas"_ +de '74 é absurdo de fantástico[^1]. Acho incrível a forma que ele escreve +num formato simples, educado e acessível para explicar conceitos +grandiosos e a necessidade de uma mudança radical e profunda na +sociedade. Também a capacidade de autocrítica dele e do FRELIMO eram +fantásticos. Também terminei de ler _"Reforma ou Revolução"_ da grandiosa +Rosa Luxemburgo. Realmente esse livro marcou várias das caixinhas de +perguntas sobre a Social Democracia e porque ela sempre falha e sempre +mantém o poder da mesma forma. Estou no processo de re-ler e fazer +algumas reflexões mais profundas sobre esse tópico, mas de qualquer +forma tem sido uma boa leitura. Também entrou na fila as _18 Teses sobre +Marxismo e Libertação Animal_ da gloriosa Sabrina Fernandes, além do +_Estrela Vermelha sobre o Terceiro Mundo_ do Vijay Prashad que já ouvi +críticas fantásticas a respeito. + +Fora dos tópicos de livros marxistas, eu estou terminando de ler, pela +terceira vez (eu acho) o _"Olhaí os Lírios do Campo"_ do Érico Veríssimo. +É realmente um livro profundo, bonito e sombrio sobre a pobreza, poder, +insegurança em relação à vida e o amor. Livro fantástico que já estou +práticamente terminando. + +## Trabalho/Projetos + +Estive de férias no meio de Fevereiro e pude ficar mais em casa, escutar +músicas, trabalhar em algumas coisinhas pequenas como o `t` e o projeto +de navegador privado `badwolf`. + +No lado do `badwolf` eu traduzi o projeto pra Português e pude começar +a trabalhar na parte de configurações. Também tirei um tempo para +entender como que o Git funciona e como usar ele de forma mais +eficiente. + +No lado do `t`, eu removi a interface de argumentos e transformei eles +em comandos de fato. Então ao invés de ter que digitar `t -c 'Minha +Anotação'` agora possuí uma interface de comandos `t create 'Minha +Anotação'`. Isso foi em grande parte um mal entendido meu sobre como +desenhar o projeto de forma correta. Também atualizei a documentação +para cobrir essas mudanças e comecei a pesquisar em como integrar +a listagem das anotações com o paginador do sistema operacional. Tudo +isso vai ser o suficiente pra chegarmos em uma versão estável 1.0.0. +Também tenho usado direto pra lidar com as minhas anotações, relatorias, +etc. + +## Vida Pessoal + +Voltei a usar o instagram. Aqui vai: instagram é uma merda, do ínicio ao +fim. Mas eu li alguns artigos que jogaram uma luz em entender que +se faz necessário estar onde as massas se encontram ao invés de criar +bolhas o que eu concordo, em partes. Nós precisamos disputar esses espaços ao +invés de tentar juntar todas pessoas que pensam igual e já estão convencidas ou tem uma visão +um pouco mais ampliadas de classe e criar espaços isolados para +interagir. Partindo do pressuposto que Política é Poder e nós temos que jogar o jogo. + +Outro assunto interessante é que me tornei vegetariano. Na verdade +a transição foi algo extremamente natural pra mim, mesmo eu imaginando +que ia ser muito difícil e trabalhoso. Eu literalmente só parei de comer +carne. A ideia é ampliar minha seleta de cardápios sem carne a ponto que +eu possa transicionar para algo mais correto com o que eu acredito. +Os motivos são vários e talvez eu aprofunde nesse tema mais pra frente. + +## Blog + +Eu tenho tido muita vontade de escrever mais, especialmente agora que +tenho lido tanto, escrever reflexões se faz algo necessário. + +Quero escrever nesse espaço especialmente sobre vida, disputas hegêmonicas, +vários mal entendidos que eu vejo por aí sobre a teoria marxiana, +tecnologia, etc. +Então uma das coisas que eu comecei a fazer foi traduzir esse blog pro +Português e tenho tentado editar algumas das minhas pilhas de anotações +em algo mais sano, coeso e entendível. Conforme eu conseguir eu vou +postando alguns por ai. + +Por enquanto, é isso! Espero que você tenha estado bem, cuidado de você +mesmo e analisado como que o capitalismo não está preparado para uma +crise como o Covid-19. Espero que você queira ajudar a mudar isso! + +Obrigado, +Pedro Lucas + +[^1]: https://lavrapalavra.com/2017/07/24/estabelecer-o-poder-popular-para-servir-as-massas/ diff --git a/content/blog/autonomia-e-programadores.en.md b/content/blog/autonomia-e-programadores.en.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..08087fc3d467ab0d2f3b21a720accf76b6908cd9 --- /dev/null +++ b/content/blog/autonomia-e-programadores.en.md @@ -0,0 +1,49 @@ +--- +title: "Autonomy as a Programmer" +date: 2021-01-10 +tags: ["thoughts"] +slug: "autonomy-as-a-programmer" +--- + +One of the things I think matters more to any programmer - and to any +other similar works - it's the crafting and making use of one's +autonomy. To have autonomy is a immense valuable tool, specially +considering that while programmers, one of our many facets is to act as +a detective. It's not rare to find ourself facing problems that demands +a investigation work, dealing with legacy projects, reading +documentation, crawling bug tickets, reading blogs, RFCs, papers, etc. +Now, most of this work is easily dealt with and almost automatically +when we have access to two important things: (1) documentation of the +project, all their proposal solutions and decisions, i.e. when the +project is built around public tools so you can reach out to a human +being and ask questions, read how and why something was did that way (2) +source-code of the project and it's surroundings. + +This is one of the biggest wins that comes from the foundamental rules +of free software, as proposed by Richard Stallman: (1) right to use a +software freely (2) right to access the source-code and the right to +study it (3) right to share copies of the program (4) right to share a +modified version of the project. The access to the source code (the 2nd +right) allow us to easily comprehend what happens inside that program, +why it behaves like that and to understand if that behavior is erratic +or well known. + +I've realized that has became an habit of mine, when dealing with some +weird situation or unexpected behavior of some library or some project, +to stop, clone the project in `~/sources` and to open the source-code +and search the origin of that behavior. Combine that with tools like +`git`, this search is even more simple and efficient, considering that I +can simple type `git grep` and search for keywords, throw a `git blame` +or `git log` on that file and find out the commit that introduced that +thing. Understanding _what_ was changed and _who_ made it. + +It ends up, that most of the time I don't even need to lookup the +project's site, read their documentation or other sort of information. +All the data I need is there, right in front of me. The process of +building autonomy, as I see it, is to not depend strictly on +StackOverflow, or some project issues, or even the mailing list when I'm +placed under a different situtation. With a little knowledge and desire +to scratch one's own itch you'll start to build autonomy and it'll be +the most valuable tool under your toolbelt, moving you out of the +comfort zone and you'll even learn a little bit of the guts of the tools +you use daily. diff --git a/content/blog/autonomia-e-programadores.md b/content/blog/autonomia-e-programadores.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..73b6fbfd64e3fa70088e56074a606a5d5f41463c --- /dev/null +++ b/content/blog/autonomia-e-programadores.md @@ -0,0 +1,51 @@ +--- +title: "Autonomia e Programadores" +date: 2021-01-10 +tags: ["reflexao"] +--- + +Um dos valores que eu sinto que é muito importante para qualquer +programador - mas para outras áreas similares - é o de construir e fazer +uso de sua própria autonomia. Possuir autonomia é uma ferramenta +valiosa, especialmente considerando que enquanto programadores, um dos +nossos trabalhos é essencialmente um trabalho de detetive. Não é raro +nos depararmos com problemas que necessitam uma trabalho de +investigação, nos levando a revisitar projetos legados, tickets de +problemas, ler blogs, documentações, etc. Esse trabalho é muito mais +simples e até de certa forma, automático quando temos acesso a duas +coisas importantes: (1) documentação de um determinado projeto, suas +decisões e soluções propostas, ou seja quando é um projeto construído de +forma pública e você pode falar com um ser-humano e perguntar o porque +de tal comportamento, ler e entender o porque das coisas serem assim (2) +código-fonte do projeto e seu entorno. + +Essa é uma das maiores vantagens que advém das regras fundamentais do +software-livre, proposto pelo Richard Stallman: (1) direito a usar um +programa livremente (2) direito a acessar o código fonte de um programa +e estuda-lo (3) direito a distribuir uma cópia do programa (4) direito a +distribuir uma versão modificada do projeto. O acesso ao código fonte +(direito 2) nos permite com facilidade compreender o que acontece dentro +daquele programa, porque ele se comporta da forma que se comporta e +entender se aquele comportamento é erratico ou pré-definido. + +Percebi que já virou um hábito meu de quando deparado com alguma +situação ou comportamento inesperado de alguma biblioteca ou projeto no +meu dia-a-dia de parar, clonar o projeto em `~/sources` e abrir o +código-fonte e buscar a origem daquele comportamento. Aliado a +ferramentas como o `git`, essa busca se torna ainda mais simples e +eficiente, considerando que eu posso digitar `git grep` e buscar por uma +palavra chave, usar `git blame` ou `git log` naquele arquivo e catar o +_commit_ que introduziu aquele item. A partir daí compreender o que e +quem fez aquela mudança. Nessa levada muitas vezes acaba que eu nem +preciso buscar o site do projeto, ou ler a documentação ou outro tipo de +informação. Toda informação que eu preciso está ali, na minha frente. O +processo de construção da autonomia, ao meu ver, entra nesse quesito, de +não sentir que eu dependo de ler um StackOverflow, ou as _issues_ do +projeto, ou ir na lista de email como um primeiro recurso quando me +deparo com alguma coisa. Com um pouco de conhecimento _e desejo de coçar +aquela coceira_ [^1] esse processo começa a se construir e se tornar uma das +ferramentas mais valiosas, te obrigando a sair da zona de conforto e a +estudar o interior das ferramentas que você utiliza diariamente. + +[^1]: [scratch one's own itch - Wiktionary (em + inglês)](https://en.wiktionary.org/wiki/scratch_one%27s_own_itch) diff --git a/content/blog/em-uma-era-online-arquive-tudo-offline.md b/content/blog/em-uma-era-online-arquive-tudo-offline.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..ac0a55c439ac463195a73e252989f1d087a7e656 --- /dev/null +++ b/content/blog/em-uma-era-online-arquive-tudo-offline.md @@ -0,0 +1,70 @@ +--- +title: "Em uma era de Acesso a Internet, Arquive tudo Offline!" +date: 2020-05-21 +tags: ["reflexao"] +--- + +Em um primeiro momento, a ideia de ter que arquivar conteúdo offline +pode parecer bem estranho. Mas em uma era que cada vez mais empresas de +tecnologia adotam o modelo de _Adaptar, estender e extinguir_ +é essencial que a gente volte a adaptar algumas práticas velhas para um +momento atual. + +Perder acesso a uma plataforma e conteúdo é algo bem comum ainda mais em +uma época como agora com o levante do neo-facismo e sanções, abuso de +DCMA/Direitos Autorais e Paywall [^1]. Empresas como o Twitter +e Facebook, volta e meia derrubam páginas de governos "ditatoriais", +"anti-democráticos", como recentemente aconteceu com as contas do +presidente Nicolas Maduro e de seu Partido no Twitter [^2]. O que +é curioso, considerando que estamos falando de plataformas/corporações +que tanto advocam pela _liberdade de expressão_ e aversão à moderação de +conteúdo, pois segundo eles _"... onde você delimita a linha (entre +censura e moderação)"_ quando questionado sobre conteúdo de +neo-nazistas, fascistas e reacionários espalhados a quatro ventos, +disseminando desinformação e ódio. Me lembra aquele velho fato do +Liberalismo e suas políticas bem descritas por Losurdo e alguns vários +pensadores marxistas, afinal "liberdade" e "democracia" é a liberdade +e democracia para os senhores (do mundo). + +[^1]: https://gigaom.com/2011/10/31/if-a-paywall-is-your-only-strategy-then-you-are-doomed +[^2]: https://www.dailydot.com/debug/nicolas-maduro-english-twitter-suspension + +Existem dois termos inglês que descrevem esses fenômenos digitais. Um +deles, se chama _link rot_, referente a quando um link apodrece, fica +inacessível mas ainda é indexado por buscadores. E o conceito de _walled +garden_ que é a ideia de um "jardim fechado", ou seja, uma plataforma +fechada, onde a empresa dita o que acontece, o que você pode ver, se +aquele conteúdo é bom ou não, e isola o acesso a esse conteúdo somente +dentro da plataforma dela (você precisa ter uma conta no Instagram para +poder ver as fotos de um perfil público, por exemplo). Eventualmente, um +_walled garden_, decide que aquele conteúdo X deixou de servir os +interesses da plataforma ou não é mais rentável. Talvez esse mesmo +_walled garden_ saiu desse negócio. Usuários dependem das plataformas +para armazenar e consumir conteúdo e links apodrecem aos milhares quando +essas plataformas morrem. Filmes somem do Netflix, Músicas desaparecem +do Spotify, contas são banidas do YouTube e SoundCloud por pedidos de +denúncias de direto autorais (muitas vezes sendo denúncias feitas por +bots/robôs e sem nenhum tipo de verificação) [^3][^4]. + +[^3]: https://www.eff.org/deeplinks/2015/02/absurd-automated-notices-illustrate-abuse-dmca-takedown-process +[^4]: https://nypost.com/2020/03/18/posts-disappear-from-facebook-twitter-youtube-as-robots-police-content + +Dado essa situação, eu tenho tomado uma atitude de fazer um espelho +offline de _tudo que eu consumo_. Se eu vejo um site que eu acho +interessante, eu arquivo ele imediatamente [^5]. Vídeos de palestras que +eu gosto, arquivado [^6]. Músicas que eu tenho interesse, guardado. +Documentos e pdfs que eu já tenha lido também. Tudo que eu possa vir +a querer consumir mais de uma vez. Projetos livres e open-source que eu +tenho algum tipo de interesse, clonados em `~/sources` e espelhados. + +[^5]: Usando o wget(1): `wget -mkEpnp www.porcellis.com` +[^6]: [youtube-dl](http://ytdl-org.github.io/youtube-dl/) + +Dado essa situação, se você é um desenvolvedor de uma plataforma, +ofereça as pessoas alguma forma de poder arquivar o conteúdo, utilize +formatos abertos e livres que não serão descontinuados em uma próxima +atualização. E enquanto usuário, não dê seus dados para plataformas da +qual você não tem a noção se elas vão conseguir se manter e quais são +seus posicionamentos éticos. Escolha plataformas livres e de código aberto +e que tenham uma comunidade boa e ativa, e engaje nesses projetos se +você puder. diff --git a/content/blog/feed-rss.md b/content/blog/feed-rss.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..3a6de3d81132294e421eaf7b7f0a02df3c1d106f --- /dev/null +++ b/content/blog/feed-rss.md @@ -0,0 +1,81 @@ +--- +title: "Feed RSS" +date: 2020-05-15 +tags: ["reflexao", "feeds"] +--- + +Dias desses, postei no meu [Mastodon](https://fosstodon.org/@eletrotupi) +sobre Feeds RSS. Precisamos resgatar essa importante ferramenta de +volta a blogs e sites que possuem um fluxo de conteudo constante, como +Podcasts. + +## Porque é importante? + +Um Feed RSS ajuda a democratizar a forma como as pessoas consomem conteúdo, +permitindo que uma pessoa possa consumir o conteúdo de um blog, sem ter +a necessidade de acessar o blog de fato e dando a possibilidade da +pessoa que publica os artigos possa ter mais foco em escrever +o conteúdo. O Feed RSS é um padrão proposto a mais de duas décadas, +chegando na sua versão 2.0 em 2002 e implementado em diversos tipos de plataformas de blogs/gerador de +conteúdo e o Atom é sua versão aberta e padronizada [^1], quase como um RSS 3.0, +e aproveitando para polir algumas arestas estranhas do RSS na sua ultima versão. + +[^1]: https://tools.ietf.org/html/rfc4287 + +## Como isso democratiza a forma de consumo? + +Disponibilizar um feed RSS permite que as pessoas possam ter mais +controle sobre a sua forma de consumo de conteúdo, permitindo que ela +possa consumir o conteúdo do seu blog/site/portal da forma que bem +preferir, sem sequer ter que entrar no seu site, exceto se ela quiser. +Existe uma abundância de implementações, justamente por ser um padrão. Por +exemplo, eu posso consumir o conteúdo do seu blog em um +agregador online que eu mesmo hospedo como o miniflux[^2], ou através de +um terminal com o newsboat[^3] se ela preferir. Sem paywall, sem +anúncios, sem pop-ups, sem espionagem das minhas atividades online, sem +ter que aguardar carregar os 10MB de dados do seu site. Eu, +por exemplo, consumo meus blogs e podcasts através de uma instancia que +eu hospedo do miniflux, uma versão mínima e simples, acessível para +celulares. Alguns artigos, por exemplo, eu prefiro ler eles direto da +fonte mas eu não sou _obrigado a fazer isso_. + +[^2]: https://miniflux.app +[^3]: https://newsboat.org + +![Imagem de um artigo da Revista Ópera com o título de Elon Musk: Um +neo-conquistador do lítio sul-americano aberto no miniflux dentro do qutebrowser](/images/miniflux-feed.png) + +Inclusive, uma dic +Youtube/Vimeo/Peertube através dos Feeds RSS do canal:) + +## Porque eu nunca ouvi falar disso antes? + +Diversas corporações, incluindo algumas que advocam pela "Web Acessível" +tiveram seu papel em ajudar a tentar matar os Feeds (alô +Facebook/Mozilla)[^4]. Isso, não significa que eles estão em desuso ou +simplesmente não devem ser levados em conta. Afinal, a "solução" +proposta por essas corporações é assinar uma newsletter (que nunca +entrega apenas o artigo) ou seguir em redes sociais que eles tem +o controle sobre o que é visto e publicado, automáticamente "ordenando" +conforme o algoritmo e seus interesses privados. + +[^4]: https://www.bleepingcomputer.com/news/software/mozilla-to-remove-support-for-built-in-feed-reader-from-firefox/ + +## Legal, como uso? + +A maior parte dos mecanismos de publicação, como +[Hugo](https://gohugo.io/templates/rss/), +[Jekyll](https://jekyllrb.com/tutorials/convert-site-to-jekyll/#10-rss-feed), +[Pelicano](https://docs.getpelican.com/en/stable/settings.html#feed-settings), +[WordPress](https://wordpress.com/support/feeds/), +[Ghost](https://ghost.org/docs/concepts/posts/), +[Write.as](https://write.as) já disponibilizam. Você pode implementar um +manualmente se preferir usando alguma biblioteca na linguagem que você +utiliza para implementar seu site e para os agregadores poderem +consumir, basta disponibilizar uma tag HTML no corpo da sua página nesse +format + +`<link rel:"alternate" href:"url-do-feed-xml" title:"Feed do meu blog" type:"application/rss+xml" />` + +Vamos permitir que as pessoas consumam o conteúdo favorito delas, +onde elas quiserem. diff --git a/content/blog/gerencia-de-projetos.md b/content/blog/gerencia-de-projetos.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..178eca13cfd32f16d2a646dee07bdc3287bb3855 --- /dev/null +++ b/content/blog/gerencia-de-projetos.md @@ -0,0 +1,77 @@ +--- +title: "Gerencia De Projetos" +date: 2020-04-06 +tags: ["reflexao", "gerencia-de-projetos"] +--- + +Essa será uma não tão longa reflexão sobre a minha visão acerca de +Gerentes de Projetos. + +Existem diversas ramificações e atribuições que surgem de um gerente de +projeto, sendo a mais comum um gerente de projetos dentro de um produto. +**Essa reflexão não é direcionada a ninguém em específico, apenas a minha +visão que eu tenho sobre essa tarefa.** + +## O que um Gerente de Projeto deve fazer? + +Um gerente de projeto deve essencialmente em uma visão sem muito +aprofundamento, _direcionar o projeto e os desenvolvedores_. Essa pessoa deve +trabalhar proximamente da equipe de suporte ou a equipe mais próxima ao usuário para entender quais as mazelas +acontecendo no produto. Ele também deve trabalhar de forma muito próxima +aos desenvolvedores e a equipe de design dela, de forma a poder +compreender onde nesse vasto campo é possível conciliar essas +necessidades quase que antagônicas. + +É o trabalho desse gerente cruzar essas informações de forma a gerir um +direcionamento saudável entre as duas equipes. Isso é tudo. + +## Como ele deve proceder com essa informação? + +Vamos pensar na seguinte ideia. É fartamente divulgado por aí, que _não +se deve gastar tempo de desenvolvimento em reuniões "inúteis"_. Apesar +de algumas variadas objeções acerca dessa ideia, em especial de +que ela gera uma alienação de quem de fato produz o trabalho, vamos +tomar ela como algo verdadeiro e universal. "Não se deve gastar tempo +produtivo de desenvolvedores em reuniões inúteis, do ponto de vista de +desenvolvedores". Considerando essa hipótese, um gerente de projeto tem +uma taref +informações e direcionamentos dos assuntos discutidos naquela reunião +para os desenvolvedores apenas "consumirem" os encaminhamentos da +reunião. Para executar essa tarefa um gerente tem que utilizar +a ferramenta mais importante sob seu cinto de ferramentas: +a organização. + +Veja bem, um gerente de projeto, e eu acho que quaisquer gerente, são +reconhecidos pela sua organização e seu metodismo. Em diversos lugares, +um gerente é em geral aquele trabalhador que se destaca pelas suas +qualidades de organização e em geral é aquele que melhor consegue alocar +as qualidades dentro de seus colegas. É _impossível_ gerenciar algo se +você não sabe onde se está indo e onde você está. Logo, é mais do que +necessário ter os princípios básicos de organização na ponta dos dedos. + +Vamos a um exemplo prático. Durante uma reunião, um gerente de projeto +deveria tentar raspar quaisquer e toda informação jogada a ele, já que +poderia se fazer necessário para trocar concessões e ajuda entre as equipes +de design, desenvolvimento, vendas, e quaiquer outro tipo de equipes que +exista dentro do seu produto. Um gerente _deve_ ter um calendário bem +organizado com suas agendas de reuniões e saber o que está acontecendo +entre os desenvolvedores e quais os futuros planos do projeto. Não +existe outra forma além disso. + +Esse na verdade, é inclusive um princípio básico de espaços de +auto-gestão e de organização popular. Quaisquer reunião de um conselho, +organização partidária, coletivos exige um relator da reunião, processo +de informes, discussão da pauta, encaminhamentos. A _falta disso_ não +significa menos burocrácia. São processos que são pensados de forma a empatizar +com os participantes e ter um "centro de verdade/referencia" ao que foi +discutido naquela plenária. + +Note que na minha concepção de gerência, ela lida com duas armas +fundamentais: **organização e documentação**. + +Em suma, o Trabalho de um Gerente de Projeto deve ser de **organizar as +equipes e documentar o trabalho a ser executado**, criar processos para +lidar com as necessidades de trabalho de cada equipe e gerar mecanismos +de análise e defesa de onde que as coisas estão funcionando e quais +processos não contribuem para uma melhor coesão entre as diversas +equipes que tem dentro de um projeto. diff --git a/content/blog/markdown.md b/content/blog/markdown.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..cc4b34e1a74d91466628cca5f311423af66eb7af --- /dev/null +++ b/content/blog/markdown.md @@ -0,0 +1,47 @@ +--- +title: "Markdown" +date: 2020-09-14 +tags: ["formato"] +--- + +Eu amo markdown. Tanto que escrevo as minhas anotações nesse formato +e [criei um programa para ajudar e tornar esse processo mais fluido][t]. +Acho que ele advém de uma estrutura muito simples e de certa forma +natural e lógica. + +[t]: https://git.eletrotupi.com/t + +O markdown é uma sintaxe de escrita de documentos de texto da qual tem +alguns signos inspirados lá do email e BBS (Bullet Boarding System) [^1]. +Como esses sistemas lidavam apenas com texto simples então se fazia +necessário achar uma forma para demarcar intensidade ou destacar alguma +palavra, alguns exemplos são a utilização de signos como `*` ou `_` em +e-mails postado em listas de discussões e conversas no IRC. Ele consegue +se manter um formato de marcação *e* manter o conteúdo legível. Além do +mais ele implementa uma série de estruturas lógicas, por exemplo +a utilização de # (jogo da velha ou hashtag) como cabeçalho, quanto mais +"profundo" aquela seção, mais jogo da velha você tem que usar. Para +listas, simples, basta usar um traço antes do item. Links e referências? +Basta incluir o texto dentro de colchetes e a URL entre parênteses. Para +referências é só escolher entre numerar ou usar uma palavra de atalho +`[manifesto][^1]` ou `[manifesto][link-manifesto]` + +O markdown já é de certa forma um padrão [^2] e do qual deveria ser +adotado mais inclusive. O Paper (editor de documentos do Dropbox) +naturalmente utiliza e te instruir a usar esse formato, as mensagens do +Slack também oferecem suporte a markdown, e qualquer _forge_ [^3] de +software também renderiza markdown. Já mundo do mobile, no Android eu +conheço e uso o Markor [^4] [disponível no F-Droid][markor]. + +Consulte o [formato (em português aqui)][md-br] e [aqui em inglês][md-en]. + +Vida longa ao Markdown! + +[md-br]: https://markdown.net.br/introducao/ +[md-en]: https://commonmark.org/help/ +[markor]: https://f-droid.org/packages/net.gsantner.markor/ + +[^1]: [Bulletin board system – Wikipédia, a enciclopédia livre](https://pt.wikipedia.org/wiki/Bulletin_board_system) +[^2]: [RFC 7763 - The text/markdown Media Type](https://tools.ietf.org/html/rfc7763#section-1) +[^3]: Site que hospeda repositórios de projetos de programas +[^4]: [gsantner/marko diff --git a/content/blog/meu-primeiro-post.md b/content/blog/meu-primeiro-post.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..dba67c5ced0214903e918e72daa0a879665288bb --- /dev/null +++ b/content/blog/meu-primeiro-post.md @@ -0,0 +1,17 @@ +--- +title: "Meu Primeiro Post" +date: 2019-11-19 +tags: ["introducao"] +--- + +Bem vindo ao meu novo blog/site/lugar pra jogar todas as minhas coisas. + +Eu quero e preciso escrever mais, e não somente assuntos relacionados ao +mundo do software livre, mas algum lugar que eu possa jogar algumas +reflexões acerca de outros tópicos, especialmente sobre política. + +Isso é tudo por enquanto. Estarei postando mais coisas e melhorando +o blog aqui e ali quando eu achar um tempinho livre. + +Obrigado, +Pedro Lucas diff --git a/content/blog/mutt.md b/content/blog/mutt.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..98c728a9dd08a4349cbaeea61af310343915ec29 --- /dev/null +++ b/content/blog/mutt.md @@ -0,0 +1,60 @@ +--- +title: "Mutt" +date: 2020-04-11 +tags: ["software", "email"] +draft: true +--- + +Faz um tempo que tomei duas decisões bem importantes. Uma delas foi me +debruçar em entender e estudar mais política e a segunda foi simplificar +as ferramentas do meu dia-a-dia. Partindo da ultima decisão, me levou +a usar o que eu nunca imaginei que iria mudar tanto a minha forma de +usar computado + +## O que é o Mutt? + +Mutt é um programa de leitura de emails no terminal. Segundo a sua +própria descrição ele segue a máxima de que: + +> Todos clientes de email são uma droga. Esse só é um pouco menos + +Dado essa premissa básica, ele parte para ser um cliente de email +simples, leve e fortemente customizável. E, justamente por rodar dentro +do terminal, ele é simples e gasta pouco recursos do computador, o que +foi o que mais me chamou a atenção. Veja bem, aqui temos uma troca +significante, pois isso representa remover algumas conveniencias. +Trocar, por exemplo uma interface bonita e moderna, por uma interface +simples e reduzida. + +Apesar de isso ser ruim, de inicio, eu sempre gosto de relembrar que +_trabalhar com menos recursos, nos possibilita perceber o quanto não +precisamos de certas coisas_. Ou seja, ao trocar uma interface +bonitinha, com ícones, efeitos, você ganha performance e se obriga +a focar no que você de fato precisa dentro de um cliente de email: +ler e mandar emails. + +## Email offline + +Bom, dado esse primeiro contato, eu migrei de fato para o mutt e passei +a utilizar ele no meu cotidiano. Acompanhar listas de discussões, +revisar patches acabou se tornando a grande estrela da minha caixa de +entrada. Entretanto, notei que por trabalhar em cima do IMAP, quaisquer +mudanças na minha caixa de entrada pareciam lento e demorado. Comecei +a pensar se eu estava _de fato_ usando o mutt da forma que ele deveria +ser usado, e acabei chegando a constação obvia. O mutt vem de uma longa +linha de clientes de emails que na verdade apenas liam o conteúdo de um +`Maildir` e apesar dele poder lidar com os protocolos de busca e entrega +de emails, não era _necessariamente_ a função principal dele, justamente +pra isso que existiam tantas outras ferramentas que lidavam somente com +alguns desses pontos (busca de emails, sincronização, envio, etc). + +## Dividindo em partes + +Comecei a buscar mais sobre e consegui descobrir o que eu precisava para +fazer funcionar da forma corret + +1. Baixar emails e "jogar" em um Maildir (`mbsync`) +2. Ler e trabalhar com eles usando o `mutt` +3. Enviar emails `mstmp` + + diff --git a/content/blog/o-deus-algoritmo.md b/content/blog/o-deus-algoritmo.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..1e82b7b0da309cd3b1e663d0346007f5970d1714 --- /dev/null +++ b/content/blog/o-deus-algoritmo.md @@ -0,0 +1,113 @@ +--- +title: "O Deus Algoritmo" +date: 2020-07-31 +tags: ["reflexao", "plataformas"] +--- + +O Algoritmo. Essa entidade mágica e onipotente, que organiza e cataloga +como nós interagimos na internet, como organizamos a nossa vida, com +quem falamos, quem podemos ver e qual assunto devemos prestar mais +atenção agora. + +A introdução do "algoritmo" nas plataformas digitais sempre entra com +a justificativa de que é uma forma mais inteligente e mais otimizada de +apresentar o conteúdo da plataforma. Quem lembra quando o Instagram +passou a reordenar o seu feed usando O Algoritmo? [^instagram-feed] +Lembram-se tambem que foi justamente quando foi adotado uma política +mais violenta de anúncios e conteúdo pago.[^instagram-ads] Sabe aquela +foto legal que seu tio postou? Foi engolida pelo algoritmo em troca de +uma postagem do perfil que está "mais engajado", ou seja aquele perfil +que tem uma boa quantidade de seguidores, postagens com mais comentários +e fotos com mais curtidas. Conhece aquele perfil que produz conteúdo +como uma fonte de petróleo recém descoberta? Pois é, para melhor se +posicionar para o algoritmo, ele força produtores de conteúdo a ter que +estar em um estado de constante conexão com a plataforma, muitas vezes +se esgotando e entrando em um estado de burnout [^burnout]. E como +a lógica vigente é sempre de _nunca resolver o mal pela raiz e sim +remendar o problema_, o Facebook, por exemplo oferece a solução de que +você possa marcar 10 perfis para "Ver Primeiro", assim num primeiro +momento sua linha do tempo parece organizada antes que você interaja com +o conteúdo cuidadosamente escolhido pelo algoritmo, a nossa entidade +mística que conhece você melhor que você mesmo, através da palavrinha +mágica da vez que é o Big Data [^big-data]. + +[^instagram-ads]: https://om.co/2016/02/13/instagram-ads-too-much/ +[^instagram-feed]: https://www.buzzfeednews.com/article/alexkantrowitz/robots-run-this +[^burnout]: https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_burnout +[^big-data]: Expressão que significa a ciência de mineração de dados, ou + seja a plataforma em questão analisa e armazena quaisquer dado + possível sobre você, montando uma rede de informações que é processada + e vendida para anúnciantes. + +No outro espectro, temos uma massa de pessoas zumbificadas, engajadas +nas plataformas, não de forma orgânica, mas de forma procedural. Os +engenheiros dessas plataformas se gabam e criam eventos gigantescos +[^f8] para discutir formas mais otimizadas de como manter o usuário em +um estado de constante engajamento, técnicas novas para "ajudar as +pessoas a se conectarem", uma palavra bonita que significa "como +arrancar cada segundo do tempo dessa pessoa na nossa plataforma". +O Instagram, por exemplo introduziu uma funcionalidade que faz isso de +forma bem simples e sutil. Ao abrir um link, ao invés de redirecionar +você para o navegador do seu celular que você escolheu, ele abre uma +interface e mostra aquele conteúdo dentro do próprio instagram, em um +navegador dentro do próprio aplicativo. Usuário bom, é usuário +conectado, sempre! + +Em outra ponta, oferecem ferramentas para que influencers possam +"etiquetar" algum item e levar a compra, tudo é claro, dentro da +plataforma. Enfim, a ideia é que você nunca desligue, nunca pare de ver +atualizações, e que essa plataforma seja o teu portifólio e espelho de +quem você é ou que gostaria de ser, moldando todos os teus interesses +e como você se informa venha através dela, através do seu grandioso +e controlado véu. + +[^f8]: F8 é o evento anual do Facebook onde eles apresentam as novas + atualizações da empresa, números e promessas. + +Além disso, essa verdadeira praga que é o deus algoritmo, se alastra +e modifica a forma como trabalhamos. Ou seja, não bastando moldar +a forma como interagimos como as pessoas e nossos circulos sociais, ele +ainda serve para direcionar a classe trabalhadora mais precarizada. +Plataformas como Rappi, Uber Eats, iFood, e suas cópias com nomes fofos, +trabalham e são regidas por esse ser que "melhor conecta os entregadores +com os restaurantes". Ele também contabiliza quantas entregas já foram +feitas por aquele entregador, quais as distâncias percorridas, e se +o entregador atual está "merecendo" a próxima entrega. É bem sabido, por +exemplo que entregadores que não entregam o pedido no prazo correto, são +penalizados, perdendo pontos no Rappi [^rappi]. Pontos esses que +determinam o número e quantidade de pedidos que aquele entregador vai +receber no dia. Enquanto isso, eles tem de ficar com o aplicativo +ligado, pronto e à postos para de no caso, se Deus quiser receberem um +pedido, seja no frio, na chuva, no calor intenso, não +importa. [^galo] +O "algoritmo" por qual se escondem essas empresas é frio e não tem pena +de trabalhador. + +[^rappi]: https://blogbra.soyrappi.com/quais-as-vantagens-dos-pontosrappi +[^galo]: https://revolushow.com/80-breque-dos-entregadores-de-aplicativo/ + +Em contrapeso ao mundo dos 'Big Five' [^big-five], onde basicamente +cinco conglomerados controlam a maior parte da internet, plataformas +alternativas como [Mastodon](https://joinmastodon.org), +[Pleroma](https://pleroma.social) +e [Diaspora](https://joindiaspora.com), se colocam contra a lógica de +algoritmos. Você vê tudo em ordem cronológica. Não existe recomendação +de perfis que você pode querer seguir, afinal para fazer isso, +a plataforma teria que ler e analisar o conteúdo das informações que +você posta. E acima de tudo, **são auditáveis, pois são construídas de +forma coletiva e aberta**. Qualquer pessoa pode ler o código delas. Isso +nos serve de lembrete constante de que essas plataformas não servem +o nosso interesse e de que não existe _"código apolítico"_. Para essas +plataformas nós somos o produto, a mercadoria. Você enquanto programador +é um ser pensante e um ator político, e o código que você escreve, ajuda +e serve o interesses de alguém. A questão é, _serve os interesses de +quem?_ + +[^big-five]: "Big Five" é um apelido para o maior oligopólio tecnologico + existente, onde basicamente 5 empresas (Facebook, Google, Apple, + Amazon, Microsoft) controlam a maior parte da internet, aliás, + [segundo + a Forbes](https://www.forbes.com/sites/timworstall/2013/08/17/fascinating-number-google-is-now-40-of-the-internet/#40c8381927c7) + somente o Google era responsável por 40% de todo o tráfego de internet + em, pasmem, 2013. + diff --git a/content/blog/o-potencial-da-federacao.md b/content/blog/o-potencial-da-federacao.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..50877655a61db2f0c4ac201ac5e3379ae1881f09 --- /dev/null +++ b/content/blog/o-potencial-da-federacao.md @@ -0,0 +1,115 @@ +--- +title: "O Potencial da Federação" +date: 2020-11-04 +tags: ["federacao", "descentralizacao"] +--- + +Recentemente me envolvi em uma discussão com um amigo sobre redes +descentralizadas e o tal chamado _fediverso_. O _Fediverse (em inglês)_ +é a junção de _federated_ e _universe_, ou seja _universo federado_. E é +basicamente uma rede de aplicações descentralizadas que são +interoperáveis, através de um (ou vários) protocolos padronizados. + +## A questão das redes descentralizadas + +A discussão sobre redes descentralizadas é algo que volta e meia +reaparece e ela posa uma questão muito importante sendo ela a seguinte +pergunt +nossas informações sob a autoridade de certas entidades da qual podem +não se alinhar com nossos interesses e objetivos"**. Mais +fundamentalmente, como previnimos que os nossos dados, sejam em certa +medida, privados de nós mesmos. + +## Programas, protocolos, formatos padronizados e federação, uma breve explicação + +Um programa de computador trabalha com a premissa básica de _entrada e +saida_ ou (Input/Output - IO), ou seja, um usuário entra com +informação/dados, o programa mastiga e cospe informação na outra ponta. + +A questão que se levanta logo em seguida é, _qual é o formato desse +dado?_. Como garantir que esse dado seja _replicável_ de forma ao +programa poder servir também em outros lugares, em outras máquinas, em +outros espaços. Justamente por isso existem _formatos de dados_ e +_protocolos/padronização_. + +Esses protocolos e formatos definem como que se estrutura uma +determinada informação, e permite a replicabilidade da mesma. E o +processo que se determina esse dado, se chama de padronização, +geralmente por uma entidade pública. A interoperabilidade ou a adoção de +programas à um determinado padrão ou protocolo os permite entrar dentro +de uma federação. + +E por fim, esses protocolos e padrões, são apenas específicações, não +entram muito a fundo na implementação. A entidade mais importante a +respeito disso é a IETF (Internet Engineering Task Force - Força Tarefa +de Engenharia de Internet), onde são publicados os RFCs (Request For +Comments - Pedidos de Comentários) que moldaram coisas como a internet, +formatos de dados e protocolos de comunicação como o Email. Outra +entidade importante é o OpenGroup/IEEE, que trouxe a vida o POSIX +(padrões de interoperabilidade entre sistemas Unix). + +## Federação + +Como mencionei antes, a federação é o processo de um programa adotar um +padrão ou permitir a interoperabilidade entre protocolos/padrões. A +principal característica é de que o sistema "conversa" em uma língua +comum. Essa "língua" (protocolo) é aberto e desenvolvido com a ajuda da +comunidade, o que acaba por gerar certos acordos e convenções sociais. + +Acho que um aspecto importante é que num sistema de servidores federados, +o controle e administração é exercido por entidades soberanas e +independentes, mas que conseguem se comunicar entre si. + +## Fediverso + +Nesse cenário, surge o chamado Fediverso. Diversos programas surgem com +a ideia de aderir a um protocolo padrão e apontando para as redes +descentralizadas. Acredito que o exemplo de maior sucesso disso, seja o +Mastodon, que seria quase como um clone da experiência do Twitter, mas +existem outros como o Pixelfed (quase como um instagram), diaspora (como +um Facebook), PeerTube (similar ao YouTube) e outros. + +Diversas instâncias do Mastodon e de outras redes que eu mencionei (isto +é, servidores) surgiram nos ultimos anos conforme as pessoas começaram a +perceber de forma mais evidente como esses grandes monopólios _realmente +funcionam_. Cada instância funciona de forma soberana e autogestionária, +ou seja seus usuários compartilham um senso de comunidade e vizinhança, +e geralmente se agrupam em instâncias que compartilham um assunto em +comum, mas não estão restritas a somente a conversar com os usuários +daquela instância afinal por estarem falando em um idioma "comum" - isto +é, um protocolo federado - elas podem interagir com outras instâncias. + +Os programas federados tendem a ser leves, justamente com a intenção de +permitir que administrar uma instância seja um processo descomplicado e +simples e não sobrecarregue os usuários e os administradores[^mastodon], +além de tentar baratear os custos da hospedagem desse servidor[^pi], por +isso é natural que essas instâncias também acabem por ter um numero +limitado de usuários e que acabam muitas vezes contribuindo +financeiramente com as despesas de manter o servidor. + +Essas instâncias pequenas e geralmente com um numero de usuários +relativamente limitado, ajudam a evitar problemas como SPAM e lidarem +com usuários abusivos, conteúdo de extrema-direita, etc. Um ponto +importante também, é que como cada instância é soberana, ela pode +decidir com quais outras instâncias do fediverso ela vai federar - ver e +interagir. + +[^pi]: [Migrating to the RPi](https://icyphox.sh/blog/pi/) + +[^mastodon]: Inclusive, o Mastodon (similar ao Twitter) inicialmente foi + desenvolvido por uma pessoa só. E consegue resolver problemas e ter a + eficiência de uma plataforma bilionária com menos de 1/5 dos recursos. + +Essas redes federadas tem sido bem abraçadas pela comunidade, justamente +por serem moldadas a centrar nos interesses do usuário, pensando em como +resolver questões que interessam aos usuários da plataforma. A mesma +lógica por trás do software livre se aplica aqui, não tem nada +desnecessário e oculto, nada que serve aos interesses secretos de uma +empresa, não existe espaço para anúncios e rastreamento, tornando mais +difícil a penetração de corporações e coisas do gênero. + +A federação é um dos melhores exemplos de autogestão, _bem comum_ e +aplicação dos conceitos do movimento software livre, como liberdade e +respeito dos usuários. Programas democráticos e que colocam o controle +na mão dos usuários deve estar na ordem do dia de qualquer entusiasta de +tecnologia, programador e ativista. diff --git a/content/blog/porque-eu-uso-vim.md b/content/blog/porque-eu-uso-vim.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..011b694e5c6285267a4d26e0c2b09bca9911c57e --- /dev/null +++ b/content/blog/porque-eu-uso-vim.md @@ -0,0 +1,107 @@ +--- +title: "Porque eu uso Vi(m) ou Uma Reflexão sobre Complexidade na Tecnologia" +date: 2020-04-02 +tags: ["reflexao", "tecnologia-popular"] +--- + +Já faz um tempo que eu troquei meu editor de escolha pelo `vim`. +Enquanto eu estava dando uma procurada sobre outros editores de texto, +eu li bastante sobre pessoas dizendo como `vim` melhorou sua +produtividade, sobre como eles conseguiam se acostumar melhor com os +atalhos e o incrível poder de customização do vim, permitindo que eles +não precisassem sequer tocar no mouse etc. Essa *não* foi a razão pelo +qual eu troquei. + +## Especificações + +Lá estava eu, sentado na frente do meu antigo notebook, em um dia meio +nublado e escuro de uma tarde de sábado. Eu tinha tomado a importante decisão +de reviver o meu velho e empoeirado Lenovo G450 e com sucesso tinha +instalado o Arch Linux (isso não é um endosso) nele. Instalei nele +o Gnome e de uma forma muito bizarra, ele não funcionou muito bem. +Também pudera, tinha apenas 2GB de RAM e usava um disco rígido ao invés +de um SSD. Acabei trocando o ambiente dele pelo LXQT que conseguiu dar +folego para que eu pudesse instalar os 5 softwares que eu uso mais: +Sublime Text, Chrome, Spotify, Slack e um Terminal. + +Bom, dado o cenário limitado eu me vi obrigado a ter que ir matando os +problemas conforme eles apareciam. Veja bem, o Chrome, por si só, já +possuí a fama de ser um navegador que devora a memória RAM do seu +computador. Curiosamente, ele também é o navegador mais utilizado +e o grande líder da infame "Guerra de Navegadores". Infelizmente, no meu +velho computador, ele sequer conseguia abrir o email da sua própria +empresa, pois simplesmente a aba travava. Youtube então? Nem pensar. +Acabei trocando pelo Firefox, que apesar da constante e bizarra +necessidade de questionar meu email e me sugerir criar uma conta, +me permitia navegar a web de forma considerada. + +Spotify e Slack são por natureza lentos e pesados, pois veja, eles +utilizam por baixo dos panos o Electron. O que significa que eles +possuem um navegador inteiro, incluindo suporte a tecnologias como WebVR +e controles de Xbox disfarçado de uma aplicação nativa bonita. Entenda +o problema óbvio aqui, duas das mais simples aplicações que um +computador dispõe, _comunicação/chat e um reprodutor de música_ são um +navegador inteiro maqueado de uma aplicação nativa lentas e pobremente +otimizadas para o computador comum. Acabei trocando pelas páginas web +delas, que apesar de não ser tão dissoante, ocupavam menos espaço em +disco e tinham significamente uma performance melhorada. + +E enfim, chegamos ao assunto desse artigo. Veja bem, o Sublime, apesar +de ser um editor de texto consideravelmente leve, conseguia ainda de vez +em quando congelar por alguns segundos. Claramente ainda performava 10x +melhor que o navegador, mas tinha eventuais dificuldades. Entretanto, eu +notava que o meu Terminal sequer tinha soluços para executar quaisquer +tarefas designadas a ele. Pois bem, um belo dia enquanto eu configurava +um servidor, me dei por conta que eu estava utilizando Vim e ele em +nenhum momento sequer tinha problemas em ler os arquivos que eu editava. +A constatação era óbvia e acabei passando o resto da semana +experimentando ele no meu cotidiano. + +Simplesmente acabei me apaixonando. Ele era simples e funcional. Cumpria +a função essencial de um editor de text +quebra eu ganhava um corretor ortográfico, abas, rodar comandos de +dentro do próprio editor, reconhecimento de sintaxe e linguagens. "Ah, +mas isso tem em qualquer editor". Pois bem, e para todas essas funções +eles precisam gastar 200MB de memória RAM? [^1]. Além disso, instalando +uma parcela de plugins recomendados ele ainda conseguia ser mais leve +que Sublime. Era perfeito. Obviamente, a parte mais difícil e complexa +foi acostumar com os atalhos de teclado, que diga-se de passagem, são +feitos para serem fáceis mnemônicos que devem ser combinados para uma +utilização mais efetiva. Dando um exemplo simples, `d` é um atalho para +**Delete** (Deletar), combine com `w` que representa **Word** (palavra) +e fica fácil de memorizar. + +## O que aprendi + +Softwares estão cada vez mais complexos e não empáticos. Pois veja, esse +tipo de software não estão sendo mais produzidos para que o cidadão +comum possa utilizar. De tal sorte que considerando que a grande parte +da população, em especial a população de países vulgarmente chamados de +países de terceiro mundo, não tem acesso a computadores de ponta, existe +uma limitação de quem pode utilizar esses softwares mesmo sendo +softwares considerados "berços" da nova era de software como Spotify ou +Slack. Estamos falando aqui, nada mais nada menos, do que a grande +epifania de comunicação moderna[^2] que se auto-intitula +"Uma forma melhor de se trabalhar". O spotify é indiscutívelmente a maior +plataforma de streaming de conteúdo audível (música e podcasts) [^3]. +E que reinventam atividades que existem desde o nascimento de computadores +pessoais e da internet, que é um reprodutor de música e uma ferramenta de chat online. +Ferramentas tão antigas e simples, que se tornam tão complexas com +o tempo e através de qual motivo? Qual a justificativa? Isso se alastra +dentro do mundo de desenvolvimento de software também, com editores da +moda como Atom e Code que conseguem realizar a tarefa de oferecer mais +_produtividade_ aos programadores em troca de _performance e espaço em +disco_. Um editor tem a simples tarefa de que quando eu pressione uma +letra no meu teclado, ele desenhe essa letra na tela e que eu possa +salvar e abrir esse arquivo. Simples assim. O resto, se não atrapalhar +ou definhar a performance é sempre bem vindo. + +Proponho a seguinte reflexã +processo massivo de complexificar elementos/softwares básicos do cotidiano +e em troca do quê? Emojis? Autocompletes? Interfaces mais bonitinhas? +E acima de tudo, será que vale esse processo? Ele é acessível para +a maior parte da população? + +[^1]: https://medium.com/commitlog/why-i-still-use-vim-67afd76b4db6 +[^2]: https://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-8158065/Slack-messaging-software-hits-record-number-active-users-employees-work-home.html +[^3]: https://marketrealist.com/2019/12/us-music-streaming-apple-music-and-spotify-dominate/ diff --git a/content/blog/primeiramente-man.md b/content/blog/primeiramente-man.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..e25112b1028fc037779b8fc2ffee85a2853928bf --- /dev/null +++ b/content/blog/primeiramente-man.md @@ -0,0 +1,67 @@ +--- +title: "Primeiramente, man" +date: 2020-04-13 +tags: ["reflexao", "tecnologia-popular"] +--- + +Em uma sociedade com um exponencial de grandeza gigantesco e da ilusão +de um fácil acesso, é incrivelmente crescente o sentimento entre os +programadores de não precisarmos mais nos preocupar em disponibilizar +ferramentas e dados de forma desconectado. Isso é uma grande ilusão. + +Era meados de 2008. Eu estava sentado no computador do Tec-Centro[^1], um +projeto público de acesso a informática na biblioteca pública da cidade. +Eu lembro bem, que naquela tarde chovia forte mas eu gostava de passar +a tarde lá "mexendo na internet". Ficava entrando em vários sites como +Viva o Linux, fóruns de informática, fazendo download de arquivos e tudo mais. +Eu ja estava desenvolvendo um interesse sobre programação e Linux, +e naquela tarde caiu a rede de internet. Eu achei que seria rápido, mas +acabou durando um tempo relativo. No konqueror[^2] ainda tinha algumas +páginas abertas que eu ficava relendo, postagens de um fórum sobre algo +que eu já não me recordo, até que me chamou atenção na assinatura de um +usuári + +> RTFM! man e o info são seus amigos +> +> $ man man | info software + +Eu não fazia ideia do que aquelas iniciais queriam dizer, mas eu sabia +que toda vez que eu via um $ era referente a um comando pra ser rodado +no terminal. Abri um terminal e digitei exatamente o que a frase dizia. +Evidentemente o terminal reclamou que não existia entrada para "software". +Rodei apenas o primeiro comando. + +> man - an interface to the system reference manuals + +Achei aquilo maravilhoso. Duas coisas, ainda me chamam a atenção até +hoje: a formatação com seus cabeçalhos em negrito e caixa alta, e a +organização em seções. + +Eu simplesmente achei incrivel a ideia de ter um manual dentro do +computador. Lembrava de algumas fotos que eu ja tinha visto de uns +programadores norte-americanos de bigodes e óculos gigante em frente +a um computador velho agarrado em um grande manual de como modificar +aquela máquina pra servir as ideias dele[^3]. Eu fiquei abismado, ali +tinha tudo, era como _um Yahoo! do computador_, melhor ainda do sistema Linux. + +Comecei a testar com programas que eu ja usava, e tudo me fascinava +mais. **SYNOPSIS**, **EXAMPLES**, **SEE ALSO** e o que inconscientemente +me fez amar aquil +pra ler um arquivo de texto (cat), não era só um software que uma +empresa se adonava, era um software escrito por uma pessoa comum, elas tinham +nomes, endereços de emails e tudo. Não era algo genérico feito por +mais uma _empresa de computador_. Aquilo dava uma sensação de poder, de +humanização. + +Ter acesso a um documento bem escrito, bem organizado, é fundamental para +democratização da compreensão das ferramentas que a gente usa. Ainda +mais quando ela esta ali, sempre disponível a qualquer momento, sem +depender de sites obscuros, sem necessidade de cadastro ou gastar horas +procurando. + +[^1]: Não lembro se esse era o nome oficial do projeto, mas era algo + dessa linha +[^2]: Na época que os navegadores eram mais simples e tinham o objetivo + de ajudar o usuario a navegar na internet. +[^3]: Algo parecido com [isso](https://en.wikipedia.org/wiki/Women_in_computing#/media/File:Shelley_Lake_at_Digital_Productions_1983.jpg) + diff --git a/content/blog/que-pasa-abril-2020.md b/content/blog/que-pasa-abril-2020.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..34af0406a195e4fdabd7c77c6f27155675d2da27 --- /dev/null +++ b/content/blog/que-pasa-abril-2020.md @@ -0,0 +1,76 @@ +--- +title: "¿Que Pasa? Abril, 2020" +date: 2020-05-09 +tags: ["que-pasa", "atualizacao"] +--- + +Hoje em um rico dia de sábado, frio, sol e vento me lembram minha terra natal. +Que saudade de casa. Depois de buscar as compras no [Bem da +Terra](https://cirandas.net/bem-da-terra) e ler um punhado de capitulos do +_Alternativas Sistêmicas_ do Pablo Solón, vim aqui relatar o que se +passou nesse mês de Abril. + +_Lento_. Se existe uma palavra que poderia definir esse mês é essa. Um +mês que parecia se arrastar, sem grandes novidades. Mandei um patch para +o [sourcehut](https://sr.ht) e [koushin](https://git.sr.ht/~emersion/koushin) +referente a lidar com citações em email e basicamente avancei algumas coisas +relativo ao projeto de uma plataforma de feira para o Bem da Terra. Esse é um +projeto que tem sido muito bom de trabalhar, apesar de lentamente estar +avançando alguns pontos de mais importancia. Perseveram algumas +discussões se a implementação deveria ser mais diversa, algo muito +parecido com a versão do nosferoo que roda atualmente no cirandas. Mas +ainda não cheguei numa conclusão sobre esse assunto. De qualquer forma, +de dentro dele, surgiu o [Umbó](https://git.sr.ht/~porcellis/umbo), uma +tentativa minha de centrar a ideia de um micro-framework css. A ideia +é um projeto que sirva como base pra implementar um grid e adicionar +a estilização de alguns elementos basicos, mas sem se tornar alguma +coisa muito rebuscada ou se tornar inchado como bootstrap/bulma e afins. +A proposta de ser modular também ajuda a poder incluir somente o que +é necessário e atualmente ele pesa nada mais do que **22kb minificado**, +incluindo todo o Grid, a fundação (tipografia, links, etc), +normalização dos elementos, tabelas e formulários. Também optei por não +usar nenhum pré-processador, justamente pra facilitar a escrita do +projeto, afinal de contas eu sempre achei _ridiculo_ eu ter que instalar +5 dependencias pra poder compilar um framework css. Por isso, basta +clonar o projeto e usando o make e ferramentas que já existem no seu +sistema operacional (cat, sed, make) você consegue gerar uma versão +completa e minificada com dois comandos apenas [^1]. + +[^1]: `make` e `make minify` + +Alias, eu tenho bastante a sensação de que justamente por desconhecer as +ferramentas que já existem hoje, se inventam abstrações desnecessárias +em cima de ferramentas já bem consolidadas e simples (Olá Gulp/Grunt). + +## Leituras + +Fora disso, terminei de ler o grandioso _Estrela Vermelha sobre +o Terceiro Mundo_ do Vijay Prashed, e é um livro fantástico. Recomendo +muito a quem tenha o desejo de compreender melhor a influência da +Revolução de Outubro sobre o mundo, muito além do que é considerado pela +hegemonia atual. E finalmente comecei essa belezinha aqui: + +![](/images/alternativas-sistemicas.jpeg) + +Quando eu comecei a ler o Bem Viver do Alberto Acosta, eu senti que +faltava algo. Sentia como se eu tivesse pego pra ler Harry Potter +e a Ordem da Fênix [^2], como se tivesse faltando uma contextualização de +tudo que o livro abordava. E apesar de que o livro do Pablo Solón foi +publicado depois do de Acosta, eu sinto que ele introduz melhor os +diversos assuntos que o livro do Acosta vai abordar. Tem sido uma +leitura prazerosa e simples, apesar de algumas questões parecerem terem +sido abordadas sem uma compreensão das diferenças entre um Estado +burguês e um Estado do Proletáriado [^3]. Também tenho me debruçado em +cima do +[Economia Política para Trabalhadores](https://www.cienciasrevolucionarias.com/pagina-de-produto/sofia-manzano-economia-política-para-trabalhadores) da Sofia Manzano e tem sido +bem complexo de compreender algumas questões. [^4] Nada que um bom final +de semana de estudo e escrita não resolva.:) + +Por hoje é só, nos vemos mês que vem. + +[^2]: Na verdade, eu nunca li nenhum desses livros. Mas gosto bastante + dos filmes +[^3]: Falta uma gota de Lenin no Pablo Solón. +[^4]: Foi inclusive por me sentir não estar conseguindo + progredir tanto que eu fiz uma pausa e peguei pra ler o Alternativa + Sistemicas. diff --git a/content/blog/que-pasa-agosto-2020.md b/content/blog/que-pasa-agosto-2020.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..a65f42db9dd7d1643db8f3c383f86433b13f7737 --- /dev/null +++ b/content/blog/que-pasa-agosto-2020.md @@ -0,0 +1,68 @@ +--- +title: "¿Que Pasa? Agosto, 2020" +date: 2020-08-27 +tags: ["que-pasa", "atualizacao"] +--- + +Mais um mês que se passou. Escrevo essa atualização atrasada, porque +esse mês está, além de passar rápido, sendo bem sobrecarregado, espero +que entenda. + +Primeiro, eu voltei das férias, que foram bem aproveitadas! Dentro de +todos os cuidados necessários fui visitar minha família, na minha cidade +Natal, afinal já fazia mais de 5 mêses que não os via. Também aproveitei +para terminar meus últimos rolos de filme que eu tinha guardado. Em +meados de Julho, eu comprei a minha primeira Rangefinder, uma Canon +Canonet QL17[^canonet]. Já fazia muito tempo que eu namorava a ideia de +fotografar com uma Rangefinder[^rangefinder], mas eu não conseguia +achar uma que eu sentisse vontade de usar e que não fosse muito cara. +Infelizmente, ela não havia retornado da manutenção a tempo da viagem, +e acabou que levei a minha confiável Pentax KM, aproveitei para +documentar bastante a vida em quarentena da minha família e do bairro +onde minha mãe mora, e estes filmes já estão sendo processados, assim +que tiver eles de volta apresentarei aqui. + +[^canonet]: https://camerapedia.fandom.com/wiki/Canon_Canonet_QL_17_/_QL_19_/_QL_25 +[^rangefinder]: O estilo de câmera criado em meados de 1920, onde para + obter foco é necessário medir a distância do assunto/objeto, + é a pre-decessora das câmeras SLR (Single Lens Reflex / Reflexo de + Lente Única), onde através de um mecanismo complexo de espelho você vê + a imagem diretamente da lente. Originalmente, havia um visor para + medir o foco e outro para montar a composição da cena. A versão que eu + tenho é uma versão mais moderna, onde através do mesmo visor você vê + as duas imagens sobrepostas e precisa centralizar elas. As + rangefinders são bem conhecidas por serem cameras mais leves, com + mecanismos mais simples e ágeis. A marca mais famosa é a Leica. + +Do retorno da viagem, aproveitei para descansar e colocar séries filmes +e leituras em dia, o que foi perfeito, pois voltei das férias direto em +um grande projeto do trabalho e tenho estado muito atarefado com as +demandas do coletivo que eu estou ajudando a construir aqui na cidade. + +Tirando isso, fiz pouquíssimas contribuições, [adicionei uma +funcionalidade de marcar um feed como lido no miniflux][patch-miniflux], +e estou preparando um patchset de documentação para o noosfero. Também +aproveitei para dar uma melhorada no design do blog, trocando algumas +fontes e adicionando um link para o [feed rss][rss] diretamente na +[página inicial][feed]. + +[rss]: /feed-rss +[feed]: /index.xml +[patch-miniflux]: https://github.com/miniflux/miniflux/pull/764 + +## Outras Coisas + +Apesar das poucas atividades, nesse mês também andei esbarrando em +algumas coisas maneiras. Estive bem viciado no Single ["Beautiful +Strangers/No Place To Fall" do Kevin Morby][bandcamp]. + +Também assisti [Valente][valente] pela primeira vez e contribuí para +esse projeto de [financiamento coletivo maravilhoso, "Gente não +é Lixo"][financiamento]. + +[bandcamp]: http://kevinmorby.bandcamp.com/album/beautiful-strangers-b-w-no-place-to-fall +[valente]: https://pt.wikipedia.org/wiki/Brave_(filme) +[financiamento]: https://benfeitoria.com/gentenaoelixo + +É isso, tentarei escrever a próxima atualização de preferencia antes do +fim do mês. diff --git a/content/blog/que-pasa-dezembro-2020.md b/content/blog/que-pasa-dezembro-2020.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..10fdff9ef386b603044f23632559267eb800925d --- /dev/null +++ b/content/blog/que-pasa-dezembro-2020.md @@ -0,0 +1,59 @@ +--- +title: "¿Que Pasa? Dezembro, 2020" +date: 2020-12-26 +tags: ["que-pasa", "atualizacao"] +--- + +Dezembro já está em seu término, assim como esse ano horrível. Seguindo +a tradição centenária, todas as atividades, prazos, demandas da qual se +acumularam durante o ano subitamente chegam ao seu ápice nas ultimas +três semanas de Dezembro e nos atolamos em meio de preparações de finais +de ano, trabalhos, projetos, escola, faculdade, etc, etc, etc. + +Evidente que eu não escapei desse fato horrendo e da qual ajuda a +suplantar nossas atividades e contribuição para a esfera do mundo do +software livre. + +Ademais, esse ano foi um ano da qual eu mais escrevi e estudei. Uma +velha paixão. Espero poder estudar mais material literário/ficção no +próximo ano, reler alguns clássicos que há muito tempo eu já esqueci. + +Além disso, foi um ano que eu reconheci o quão danoso é a tecnologia da +forma que a gente utiliza e constrói. Percebi que eu desejo _utilizar a +tecnologia, e não o contrário_. Talvez por estar lendo mais, fica mais +evidente como eu gasto muito tempo alimentando um ciclo infinito de +atividades irrelevantes, induzidas quase como hábitos sem sentido, +caçando memes, deslizando um feed, procurando distrações rápidas e um +depósito rápido de endorfina. Tempo esse que eu poderia ler, escutar uma +música, e efetivamente estar offline. + +Esse sentimento não é de agora. Quando eu perdi meu celular há uns dois +anos atrás, eu senti que eu realmente tinha mais tempo. A situação era +de que eu não tinha um celular, e apenas tinha um computador no +trabalho. Então quando acabava de trabalhar, eu subia em um ônibus, +voltava pra casa e simplesmente focava em fazer outras coisas. As vezes +imprimia alguns textos para ler em casa e assim eu gastava meu tempo. +Retomar o celular, é também lentamente desaprender a gerenciar o +micro-tédio e se entregar novamente aos des(prazeres) da vida em mar de +constante notificações de empresas e pessoas querendo um pouco de +atenção. [^1] + +[^1]: Momentos como quando você está esperando um ônibus, ou em uma fila + da lotérica, coisas assim. + +No meu texto ["Computadores de Verdade"][computadores], eu comento sobre +como nem mesmo temos verdadeiro domínio dos nossos equipamentos +tecnológicos. E é partindo desse ponto, aliado também da minha +trajetória pessoal enquanto indivíduo, que eu passei a observar de uma +forma até mais radical a tecnologia em si e mergulhar cada vez mais +fundo no quase defunto movimento software livre, "retro-computing" +(computação retro), tecnologias simples, padrões, protocolos abertos, +descentralização e por aí vai. + +[computadores]: https://porcellis.com/computadores-de-verdade + +Eu quero um mundo onde a tecnologia esteja servindo os nossos +interesses, e que ela sirva muito mais pra ajudar do que pra se +alimentar de cada micro detalhe das nossas vidas para aumentar a taxa de +lucro de alguém por aí. Acho que não é algo impossível, mas com certeza +é algo que dá trabalho nesse momento que vivemos. diff --git a/content/blog/que-pasa-julho-2020.md b/content/blog/que-pasa-julho-2020.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..f5b883b563e6078996437782258bb1a8e3edcbab --- /dev/null +++ b/content/blog/que-pasa-julho-2020.md @@ -0,0 +1,59 @@ +--- +title: "¿Que Pasa? Julho, 2020" +date: 2020-07-15 +tags: ["que-pasa", "atualizacao"] +--- + +Atípico. Diferente. Incomum. Acho que qualquer sinonimo que se encaixe +nessa categoria serve para descrever esses ultimos três meses. +Essa é a minha ultima semana antes de um desejado descanso de férias de +20 dias. E logo após mencionar isso eu sempre escuto um "como assim +férias na quarentena?". + +Sim, férias na quarentena. Apesar de ainda estar cumprindo o isolamento, +mesmo contra os grandiosos esforços dos nossos governantes no Brasil, eu +realmente gosto de ficar em casa. Obviamente que é até incomparável +a sensação de estar em casa com estar isolado, mas não tem sido tão +incomodo de qualquer forma, o que tem incomodado é a apatia e descaso +dos governantes e da classe dominante conosco, e ainda mais a falta de +compreensão de quem tá vivendo isso e não tá buscando mudanças radicais. +Além do mais, tenho uma pilha gigante de livros para continuar os meus +estudos, e algumas ideias de projetos que estão bem formulados na minha +cabeça, então esse tempo vai ser bom justamente para colocar em prática. + +Também tenho pensado e ensaiado bastante assuntos sobre tecnologia +e política, movimento software livre, tecnologia e a periferia e sobre +o movimento anti-DRM [^1]. + +Nesses três meses, eu aproveitei e modifiquei o layout desse blog, +trocando a fonte para uma serifada (_serif gang_)[^2] e trabalhei melhor com +as cores, migrando pra um fundo preto fosco com as fontes num cinza +escuro. Acho que ficou melhor aos olhos. + +Publiquei um mirror do [t][t] (a forma mais simples de escrever) no +Github, trouxe para o português a apresentação do [umbó][umbo] (a minha +biblioteca css modular e simples), escrevi sobre o [Signal][signal], +mandei um patch para o que tem sido meu navegador já um tempinho, +[qutebrowser][qutebrowser], sugeri de incluir o [Better][better] como +alternativa de bloqueio de anúncios/trackers para usuários de Mac no +[shouldiblockads.com](https://shouldiblockads.com), e apesar de não usar +mais o buttercup [^3] para gerenciar senhas, [eu corrigi][buttercup] um +pedido de ajuste simplezão que eu mesmo tinha feito uns 2 anos atrás. + +Enfim, acho que foi isso. Se informe e se cuide. Nos vemos mês que vem. + +[t]: https://github.com/pedrolucasp/t +[umbo]: https://git.sr.ht/~porcellis/umbo/tree/master/README.pt-br.md +[signal]: https://porcellis.com/signal-e-mais-seguro +[qutebrowser]: https://github.com/qutebrowser/qutebrowser/pull/5456 +[better]: https://github.com/notriddle/shouldiblockads.com/issues/4 +[buttercup]: https://github.com/buttercup/buttercup-mobile/pull/237 + +[^1]: DRM é uma sigla que significa na gringa, Digital Restrictions Management ou + Restrições Digitais Gerenciada ou uma técnica da qual uma tecnologia, + produto ou software vem limitado de fábrica, dá uma lida + [aqui](https://www.defectivebydesign.org/what_is_drm_digital_restrictions_management) +[^2]: https://www.instagram.com/p/CAfvRyVg56O/ +[^3]: Comecei usando o LastPass, depois + o [Buttercup](https://buttercup.pw) e hoje uso + o [PasswordStore](https://passwordstore.org) diff --git a/content/blog/que-pasa-novembro-2020.md b/content/blog/que-pasa-novembro-2020.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..b61c0a08a064476efc383f77fd76545b6c8a8b11 --- /dev/null +++ b/content/blog/que-pasa-novembro-2020.md @@ -0,0 +1,46 @@ +--- +title: "¿Que Pasa? Novembro, 2020" +date: 2020-12-01 +tags: ["que-pasa", "atualizacao"] +--- + +Escrevo enquanto escuto _The Fletcher Memorial Home_, do Pink Floyd no The +Final Cut. Eu _realmente_ gosto MUITO de Pink Floyd. Mas até a tal _era +Roger Waters_, que se fecha com esse album (o Waters saiu da banda nessa +época). Teve uma época que eu achava esse o melhor album deles, e +escutava quase que diariamente. + +Nesse mês, diante do fiasco do projeto do youtube-dl ter sido derrubado, +eu aproveitei que eu já [tinha arquivado o projeto][arquivar] e espelhei +ele no [git.eletrotupi.com][git]. Conversei com bastante pessoas a +respeito sobre a fragilidade de projetos de software livre armazenados +em redes centralizadas e uma alma caridosa traduziu meu texto sobre +[sobre arquivar as coisas][arquivar] [para o francês][frances]. + +[arquivar]: https://porcellis.com/em-uma-era-online-arquive-tudo-offline + +[git]: http://git.eletrotupi.com + +[frances]: https://blog.middleearth.fr/a-lere-dinternet-archivez-tout-hors-ligne.html + +Também enviei alguns patches de tradução, em especial ao [log28][log28] +e o [Badwolf][badwolf]. Também pulei no vagão rumo ao [Gemini, um novo +e mais simples protocolo][gemini-docs]. Nesse processo enviei alguns +[patches para o satellite][satellite], o servidor que eu escolhi usar +no [gemini.eletrotupi.com][gemini]. + +[log28]: https://github.com/wildeyedskies/log28/pull/9 +[badwolf]: https://hacktivis.me/projects/badwolf +[gemini-docs]: https://gemini.circumlunar.space +[gemini]: gemini://gemini.eletrotupi.com +[satellite]: https://sr.ht/~gsthnz/satellite/ + +Alem disso motivado pela falta de espaço constante e necessidade de um +computador a longo prazo, na sexta-feira (27 de Nov), montei um +(computador) para mim. Foi uma boa oportunidade para refazer a +configuração e colocar em prática algumas tecnologias melhores como o +ZFS [^1]. Acabei mantendo o mesmo sistema (Arch), apesar de que migrei +meu notebook para o Alpine. Espero que dure por uma boa década! + +[^1]: ZFS é um sistema de arquivos mais avançado com diversas funcionalidades + como compressão automática, espelhamento em outros HDs, RAID, etc. diff --git a/content/blog/que-pasa-outubro-2020.md b/content/blog/que-pasa-outubro-2020.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..d8af55af74f6123a28814f0ea1ad206dda5222ae --- /dev/null +++ b/content/blog/que-pasa-outubro-2020.md @@ -0,0 +1,48 @@ +--- +title: "¿Que Pasa? Outubro, 2020" +date: 2020-10-22 +tags: ["que-pasa", "atualizacao"] +--- + +Escrevo nessa madrugada. Parece que tudo fica mais calmo e eu fico meio +que no 220v. + +Esse mês foi um pouco mais calmo que os outros, mas curto. Mal vi passar +na verdade. Estamos em fase de teste de um projeto grande na empresa, +migrar a lógica de usuários e autenticação para um SSO, em um +microserviço (ou mini?) separado do nosso monolítico [^1]. Tirando isso, +também terminei mais alguns rolos de filmes e vou poder finalmente +revelar e descobrir qual o estado do meu primeiro teste com uma +rangefinder. + +Descobri que um texto meu foi publicado em uma revista/jornal da minha +cidade, o que me deixou bem feliz, mesmo que o texto em si estivesse bem +desatualizado. Além disso, estou mergulhado no _Mulheres, Raça e Classe +da Angela Davis_, realmente fantástico. Também viajei demais no livro de +fotografia _"A Beautiful Ghetto"_ de Devin Allen, documentando o antes, +durante e depois do que ficou chamado de "Levante de Baltimore" nos EUA +[após o assassinato de Freddie Gray][baltimore]. + +Esse mês foi bem voltado ao texto, publiquei o [rascunho][rascunho] e +seus arquivos de configuração e implementei o comando de [compartilhar +no t][compartilhar]. Para fazer isso finalmente adicionei a +funcionalidade de poder configurar as opções dele através de um arquivo +`.conf`, um passo importante para poder criar um comando de +inicialização e permitir que todo o fluxo seja mais fluído. Também +aproveitei e traduzi o `README` para o [bom e glorioso português][ptbr]. +Fora disso, enviei um [PATCH melhorando a documentação do cgit][cgit] e +fiz uma correção na [biblioteca humanize, incluindo os arquivos de +tradução][humanize]. + +É isso, nos vemos mês que vem! + +[baltimore]: https://en.wikipedia.org/wiki/2015_Baltimore_protests +[humanize]: https://github.com/jmoiron/humanize/pull/172 +[cgit]: https://lists.zx2c4.com/pipermail/cgit/2020-September/004541.html +[ptbr]: https://git.sr.ht/~porcellis/t/tree/master/README.pt-br.md +[compartilhar]: https://git.sr.ht/~porcellis/t/commit/9ccc8779f3633e66a7352a68ecfd2b77fdca785e +[rascunho]: https://sr.ht/~porcellis/rascunho +[^1]: Conceito de arquitetura de software onde todo o código e todo o + serviço é centralizado em um único lugar. É o oposto de um + microserviço, onde a aplicação em si é composta de diversos serviços + auxiliares. diff --git a/content/blog/que-pasa-setembro-2020.md b/content/blog/que-pasa-setembro-2020.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..55bdb37cd19c121028d4fbc5f3f625aecf04f0f9 --- /dev/null +++ b/content/blog/que-pasa-setembro-2020.md @@ -0,0 +1,39 @@ +--- +title: "¿Que Pasa? Setembro, 2020" +date: 2020-10-03 +tags: ["que-pasa", "atualizacao"] +--- + +Sim, estou atrasado. Chove em Pelotas há dias, e estive atolado de +trabalho por isso escrevo atrasado essa mini-atualização. + +Esse mês que passou foi bem conturbado, estamos entregando um projeto +gigante no trabalho, a minha organização política também esteve exigindo +bastante coisas, estive participando de varias comissões e grupos de +trabalho que exigiram bastante atenção, e estou participando mais +ativamente da [coordenação da feira do Bem da Terra][bem-da-terra]. Acho +que nunca escrevi tanto em um mês, fosse isso código ou textos. + +Fora desse mundo pessoal, também aproveitei alguns incidentes de +segurança para reorganizar os servidores que eu tenho hospedado alguns +projetos e arquivos. + +Publiquei o [Manifesto pelo Software Livre nas Instituições +Públicas][manifesto] com a ajuda de alguns ativistas por software livre, +e implementei uma listagem paginada com no [t][projeto-t]. Também +empacotei o projeto [percollate][percollate] para o Arch Linux. +Aproveitei e tenho tentado manter [uma lista de coisas que eu +descobri][hed] (sob a CC-0/domínio público), voltado a computação e *nix +[^1]. + +[manifesto]: https://softwarelivrenoestado.com.br +[projeto-t]: https://github.com/pedrolucasp/t +[percollate]: https://github.com/danburzo/percollate/pull/105 +[hed]: https://hed.porcellis.com +[bem-da-terra]: /sobre-o-bem-da-terra/ + +[^1]: *nix é referente a qualquer sistema variante do Unix, como + o Minix, BSD, Linux, macOS, etc + +Acho que esse mês vai ser melhor, e poderei escrever com mais calma. +Obrigado! diff --git a/content/blog/senhas.md b/content/blog/senhas.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..4568a69184a155834936c0dc051310a8e01d2eb1 --- /dev/null +++ b/content/blog/senhas.md @@ -0,0 +1,179 @@ +--- +title: "Senhas" +date: 2020-08-03 +tags: ["tecnologia", "organizacao", "pass"] +--- + +Senhas. Um problema, uma confusão. Perder uma senha hoje é um inferno, +considerando que praticamente dependemos de dezenas de serviços onlines, +das quais praticamente guardam e conhecem a nossa vida, até melhor que +nós mesmos. Nesse cenário, gerenciar, guardar e ter em sincronia essas +senhas é uma tarefa chata e complexa. Podemos tornar isso menos +complexo, se utilizarmos um gerenciador de senhas. + +Existem diversos, eu já passei por alguns, comecei com +o [1Password](https://1password.com), [LastPass](https://lastpass.com), +[Buttercup](https://buttercup.pw) e finalmente aterrisei no +[Pass](https://passwordstore.org). + +## Usando o Pass + +Tecnicamente falando, o Pass não tem bancos de dados, não tem cadastros, +nem nada complexo. Na verdade ele só conecta arquivos de textos com +o GnuPG, ou um gerenciador de chaves digitais, o que eu acredito ser +o tipo de ferramenta ideal, afinal além de mínimo (44kb), não ser intrusivo, +ele se utiliza de outras ferramentas sólidas e maduras. Justamente por +ser arquivos de texto normais, te oferece uma liberdade extra de você +organizar da forma que você julgar mais apropriado. Inclusive, não +precisa ser necessariamente senhas, podendo ser qualquer coisa que você +quiser, como dados de cartão, documentos sensíveis, configuração de +acesso, etc. Para informações mais aprofundadas, consulte o site do +[Pass](https://passwordstore.org), e o [Guia de mão do +GnuPG (em inglês)](https://www.gnupg.org/gph/en/manual.html). + +### Iniciando + +Primeiramente, instale o `pass` de acordo com o seu sistema operacional, +ou seja, através do seu gerenciador de pacotes nas distribuições Linux +ou o `brew` no macOS e instale também o `gpg`. + +Se você não está familiarizado com PGP, recomendo novamente dar uma lida +no [Guia de mão do GnuPG (em inglês)](https://www.gnupg.org/gph/en/manual.html). +Basicamente o PGP funciona gerando um par de chaves, uma pública e uma +privada, e com essas chaves você pode criptografar e descriptografar +arquivos. Quando você gera uma chave, você ganha um fingerprint +(digital) da qual representa essa chave. + +Para gerar uma chave nova, é bem simples. + +```shell +$ gpg --gen-key +$ gpg --list-keys +``` + +Aproveite e faça backup das duas e mantenha em um lugar seguro, como um +pen-drive, um HD externo, etc: + +```shell +$ gpg --export-secret-keys --armor <fingerprint> > privkey.asc +$ gpg --export --armor <fingerprint> > pubkey.asc +``` + +### Usando o `pass` + +Bom, agora que você já fez backup, vamos usar essa chave para +inicializar o pass e informar que você quer criptografar as suas senhas +usando essa chave em específico. + +```shell +$ pass init <fingerprint> +``` + +Relembrando, cada entrada no teu banco de senhas é um próprio arquivo, +e você pode armazenar quaisquer informação de texto nesses arquivos, +nomes de usuário, senhas, emails, respostas para informações secretas, +etc. Novamente, dê uma olhada no manual do pass. Além de uma ótima +documentação ([e ser offline](https://porcellis.com/primeiramente-man)), +ele oferece também alguns exemplos de como organizar melhor suas senhas, +exemplos, etc. + +```shell +$ man pass +``` + +Uma funcionalidade que eu gosto muito, é de transformar seu banco de +senhas em um repositório git, podendo assim sincronizar em qualquer +lugar. + +### Transformando esse banco em repositório git + +Para inicio, é bom se familiarizar com os termos e como funciona o git. +Deixo de recomendação, a [própria documentação do +Git](https://git-scm.com/book/pt-br/v2). Feito isso, você vai precisar +de um repositório `bare` ou como eu gosto de chamar, um "repositório +backend". Aqui existem duas opções, dependendo de onde você pretende +guardar essas informações. Auto-hospedando em um servidor próprio, ou +usando um serviço como o Github/Gitlab e derivados. + +Se você, assim como eu, prefere colocar isso num servidor próprio, +afinal estamos falando de senhas e informações sensíveis, basta seguir +aqui o seguinte passo no seu servidor para criar um repositório `bare`: + +```shell +$ git init --bare ~/.password-store +``` + +Diga para o `pass` que você quer que seu banco de senhas seja um +repositório git e indique para qual repositório bare o git deve mandar +os dados, seja aqui no seu servidor ou no Github/Gitlab. + +```shell +$ pass git init +$ pass git remote add origin user@serve +$ pass git push +``` + +_Se você criou um repositório no Github/GitLab/etc basta apontar para +`git@github.com:user +a documentação do serviço que você usa._ + +Pronto, agora para usar o seu repositório em uma máquina diferente +é simples, basta importar as chaves, e clonar o repositório. + +Importando as chaves: + +```shell +$ gpg --import pubkey.asc +$ gpg --allow-secret-key-import --import privkey.asc +``` + +Talvez seja necessário +[Confiar (em inglês)](https://www.gnupg.org/gph/en/manual.html#AEN346) as novas +chaves. + +```shell +$ gpg --edit-key <fingerprint> +``` + +Clone o repositório diretamente na pasta padrão que o `pass` procura. + +```shell +$ git clone user@serve +``` + +Feito, agora basta sincronizar os dois hospedeiros usando `pass git +push` e `pass git pull`. Se você precisar remover, basta apagar a pasta +com `rm -rf ~/.password-store` e voilá. + +## Certo, e no celular? + +No celular é relativamente simples. Usando o F-Droid[^f-droid], basta +instalar +o [openKeychain](https://f-droid.org/en/packages/org.sufficientlysecure.keychain/) +e o [PasswordStore](https://github.com/android-password-store/Android-Password-Store). +Dê uma olhada com calma na documentação dos dois aplicativos. Marquei os +links para algumas referências no rodapé. + +### Importando sua chave digital + +O primeiro passo é de importar a sua chave digital no +`openKeychain`[^open-key-chain]. No +meu caso, eu transferi elas para o meu celular e fiz o passo manual de +importar elas através do aplicativo (é bem auto-explicativo). + +### Configurar o Password Store + +Já no `PasswordStore`[^password-store], nas configurações primeiro você deve indicar qual +chave digital quer utilizar (ele automáticamente busca primeiro no +`openKeychain`). + +Depois, na seção de Repository, idealmente você deve gerar uma chave SSH +e importá-la no seu servidor ou na sua conta do Github/Gitlab. + +E basta configurar os dados como login e senha de acesso ao seu +servidor, e qual URL buscar e enviar as senhas. + +[^f-droid]: https://f-droid.org +[^open-key-chain]: https://www.openkeychain.org/ +[^password-store]: https://github.com/android-password-store/Android-Password-Store/wiki/First-time-setup + diff --git a/content/blog/signal-e-mais-seguro.md b/content/blog/signal-e-mais-seguro.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..b1faa836e0ee2e3e33432dd75e6ec1051fbf8e3c --- /dev/null +++ b/content/blog/signal-e-mais-seguro.md @@ -0,0 +1,313 @@ +--- +title: "Signal é mais seguro?" +date: 2020-06-19 +tags: ["reflexao", "privacidade"] +--- + +Enquanto a máquina de moer preto e pobre continua, levando consigo +o menino João Pedro, George Floyd, e tantos outros, explode diversas +manifestações e atos dentro e fora do Brasil e novamente volta a tona +algumas discussões a respeito de como se manter seguro, seja de forma +física, quanto a nível de comunicação segura. Dentro das diversas +plataformas de comunicação, existe uma que é considerada por muitos +o ápice da comunicação segura, o Signal, que inclusive é recomendado por +grandes nomes como Edward Snowden (o que vazou esquemas de espionagem +realizado durante a gestão Bush/Obama em outros países, incluindo +o Brasil). + +E apesar de compreender a utilização dele, eu tenho algumas +desconfianças com algumas abordagens da empresa que o gere (Open Whisper +Systems) e seu criador, Moxie. O que me leva a continuar a me perguntar +se ele é de fato seguro e quais seus verdadeiros interesses. + +Veja bem, hoje em dia, o Signal é destacado como o mensageiro mais +seguro e quase utilizado como a solução _de facto_ quando o assunto +é privacidade. Ainda mais quando é endossado por ativistas de peso sobre +segurança da informação e jornalismo investigativo, indicando que "eles +confiam no Signal por conta da forma que é feito", destacando itens como +"código aberto", "(a empresa) fundada por doações". + +Podemos então assumir que o Signal é utilizado por pessoas que vão desde +entusiastas e pessoas preocupadas com a sua segurança, quanto pessoas +que utilizam-o para distribuir e organizar informações críticas +e sensíveis. Informações que se vazadas, poderiam levar inclusive +a escandâlos (como vimos acontecer com a Vaza Jato) ou com perseguições +e até morte de ativistas e whisteblowers (delator). É necessário muito +além de que essas pessoas **confiem** que o sistema é seguro, +é necessário que o sistema se fundamente em cima de argumentos +e decisões sólidas. + +Entenda que, de um ponto de vista técnico, em geral quando se desenvolve +um sistema, é necessário fazer concessões ou trocas. Por exemplo, quando +falamos da distribuição do aplicativo, este se dá através de canais que +são "convenientes" mas inseguros? Ou ela se dá através de canais +alternativos, mas que protegem e entregam uma maior confiabilidade das +informações? É responsabilidade de quem está por trás do sistema de +apresentar essas trocas, de fazer um balanço crítico, sério e profundo, +apresentando as vantagens e desvantagens de cada opção e sem cair em +reducionismos imprecisos ou argumentos simplistas como de que "é mais +fácil o acesso para o usuário comum", especialmente quando estamos +tratando de assuntos como segurança e privacidade. + +Dito isso, o Signal sempre apresentou uma certa resistência sobre alguns +assuntos que fazem me olhar sempre com uma certa desconfiança sobre +essas questões e sua abordagem. Quero apresentar algumas delas aqui. + +## Distribuição do Aplicativo Android + +Hoje, o Signal distribui a versão do seu aplicativo Android através da +loja oficial do Google, a Google Play. Vamos, primeiro analisar algumas +informações sobre isso. A Google hoje, é por consenso, o complexo +empresarial que mais conseguiu implementar com sucesso o que alguns +especialistas chamam de capitalismo de vigilância surveillance +capitalism[^vigilancia]. O que significa que hoje a Google tem a maior rede de +máquinas com o propósito de analisar e captar informações privadas dos +seus usuários em diversas plataformas que ela incorpora. +[^vigilancia]: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1095796018819461 + +Apesar do Google ser o principal mantenedor, o Android, por si só é um +projeto de software livre, o que permite derivações e outras versões do +Android sem toda a carga e ligação com o Google. Projetos como Paranoid +Android, CyanogemMod, LineageOS são distribuições do projeto Android, +geralmente focando em segurança, privacidade e em remover a "carga" que +vem do Google. + +Quando refere-se a essa "carga" que vem do Google, essencialmente se +fala sobre o Google Play Services, um alvo de bastante discussão afinal +de contas, o serviço do Google Play Services permite que aplicativos +possam automáticamente instalar atualizações e liberar permissões de +forma silenciosa para os aplicativos que ela bem entender. Não bastando +isso, um alvo de duras críticas é a própria Play Store, a loja oficial +de aplicativos da Google. Uma das principais críticas, de anos é a falta +de avaliação de qualidade de aplicativos disponibilizados dentro da +loja. Para ilustrar, basta você pesquisar por "lanterna" e analisar +a lista dos primeiros 5 aplicativos que aparecem. Todos pedem permissões +absurdas como Contatos, Acesso a Internet, GPS. O que diabos +é necessário de acesso a Contatos em um aplicativo que simula uma +lanterna? Colocando em termos "corretos", hoje a Play Store consegue ser +um dos maiores lugares de phishing (quando um site, email, ou aplicativo +simula algo que ele não é). + +Por um longo período, o Signal só funcionava se você tivesse o Google +Play Services instalado (algo que só foi corrigido em 2017 por conta de +protestos de diversos ativistas e usuários) e hoje finalmente é possível +baixar o APK (o .exe do Android) **diretamente do site do signal.org**, +mas agora a gente vai explorar um pouco mais sobre esse tópico. + +## Canais Alternativos de Distribuição + +Dado o contexto da Google Play Store, alguns usuários criaram uma +plataforma alternativa de distribuição de alguns projetos de software +livre, chamada F-Droid da qual além de ser construida coletivamente +consegue lidar com diversos pontos falhos da loja oficial do Google. +Alguns usuários propuseram [^1] que o Signal devia ser distribuido pelo +F-Droid em 2013, fosse esta uma migração completa (retirando a versão da +Play Store) ou parcialmente (disponibilizando como uma forma de downloda +alternativa) da qual o criador e mantenedor do projeto, efetivamente +fechou a discussão e tampouco mudou sua opinião sobre esse assunto. Eu +queria demonstrar alguns pontos que ele levanta como argumento contra +essa migração, lembrando que está é uma tradução livre e você pode [ler +o original aqui](https://github.com/signalapp/Signal-Android/issues/127#issuecomment-13335689). + +[^1]: https://github.com/signalapp/Signal-Android/issues/127 + +> [No F-Droid] Não existe um canal de atualização. Atualizações +> automáticas são um dos pontos mais efetivos e seguros e não ter eles +> seria uma catrástofe para o projeto. + +Pois bem, antes de adentrar mais a fundo nas questões específicas do +argumento usado pelo Moxie, preciso deixar claro que o catálogo de +aplicações do F-Droid trabalha com a lógica de repositórios. Ou seja, +além do repositório principal, da qual é mantido pela rede de +contribuidores do próprio F-Droid, é possível adicionar de forma externa +um repositório mantido por terceiros, seguindo o mesmo padrão já bem +estabelecido dentro do universo Linux. + +Veja bem, o argumento do Moxie nesse momento, é centrado na falta de +atualizações automáticas (algo que o Play Services faz por padrão) e de +uma certa "burocracia" para lançar uma atualização, pois seria um +trabalho manual e demorado, algo que não aconteceria se o Signal tivesse +seu próprio repositório, afinal isso talvez fosse um trabalho colossal? +[^2] Entretanto, o Signal não parece ter medido tantos esforços para +incorporar busca de GIFs [^3] ou pacotes de figurinhas. Também vale +lembrar que a empresa da qual o Signal busca os seus GIFs, recentemente +foi comprada pelo Facebook [^4] por $400 milhões. Sim, aquele monopólio +envolvido no escandalo da Cambridge Analytics, eleições dos EUA em 2016, +disseminação em massa de Fake News e fartos casos de invasão de +privacidade e mineração de dados. É bom lembrar que a empresa por tras +da Signal, recebeu recentemente uma doação generosa de $50 milhões [^5], +o que talvez pudesse ajudar afinal toda a operação do F-Droid se baseia +com doações de voluntários, entusiastas e dinheiro pessoal dos +criadores. + +[^2]: Não é +[^3]: https://signal.org/blog/signal-and-giphy-update +[^4]: https://www.fastcompany.com/90505929/the-real-reason-facebook-bought-giphy-for-400-million +[^5]: https://signal.org/blog/signal-foundation + +Mas tudo bem, vamos dar continuar lendo alguns dos argumentos do Moxie +sobre esse assunt + +> Uma das coisas [boas da Play Store] é que existe uma checagem de +> validação da assinatura [^6] das APKs, se a gente voltar a distribuir +> essas APKs através da internet, é como reverter ao modelo inseguro de +> distribuição lá de 2000 [alô Baixaki] e todas as preocupações com +> malwares que advém disso [^7] + +Vamos voltar ao exemplo da "lanterna" na Play Store. As aplicações que +simulam uma lanterna, não são nada mais que aplicações que recolhem +indevidamente as informações do celular e revendem os dados pessoais +para terceiros. Ou seja, essa validação que é feita na Play Store, não +serve de muita ajuda, não é mesmo? Mas esse, nem é o ponto mais gritante +do argumento falho do Moxie, mas sim o fato de que assim como as +distribuições Linux fazem a anos, o catálogo de aplicações do F-Droid +passa também por uma cuidadosa curadoria feita a mão por voluntários +e as devidas assinaturas das aplicações são igualmente verificadas [^8]. +Considerando ainda a opção mencionada de rodar o seu próprio +repositório, esse acaba quase nem se tornando um problema. + +[^6]: Todo software pode ser assinado digitalmente, de forma a verificar + que aquele aplicativo foi feito e distribuido por quem afirma que fez + e distribuiu ele. +[^7]: Malwares é uma forma de ataque onde você afirma que é um + instalador de um software, que traz junto diversos outros softwares + ruins junto. Tipo, o Bolsonaro e seus ministros ou as barras de + pesquisa do Baidu. +[^8]: [Documentação do Processo de Assinatura Digital do F-Droid](https://f-droid.org/en/docs/Signing_Process) + +Se você quiser, você sempre pode espiar a lista de discussão de aberta +já a 7 anos, da qual diversas pessoas expõem as falhas nos argumentos do +Moxie, até que enfim ele tranca a discussão afirmando que é um problema +que não vai ser reaberto. + +# Download direto do APK + +Em 2017, o Signal adicionou uma opção para poder obter um APK oficial, +diretamente do signal.org. Segundo ele, foi feito para **diminuir os +danos** e evitar pessoas baixando versões encontradas aleatóriamente na +internet. A página é curiosa, porque é cheia de anúncios e avisos +sobre como ela é uma alternativa estritamente para "usuários avançados", +que é um "método menos seguro", quase que como uma forma de obrigar as +pessoas a procurarem a versão disponibilizada pela Google Play. + +Dado esse download, o usuário teria que manualmente descobrir se aquele +APK é de fato o mesmo que foi disponibilizado pelo site, verificando +o checksum [^9] e toda vez que saísse uma atualização teria de +manualmente refazer todos esses passos. Dois pontos que novamente +o F-Droid já resolveu, afinal além de verificar o checksum, todos os +aplicativos são digitalmente assinados. Se o objetivo de disponibilizar +o download direto é "reduzir os danos" porque tanta resistência a não +adicionar no F-Droid? + +[^9]: Checksum é uma forma simples de "bater" as informações, se um + arquivo tem o mesmo número de bytes que outro. + +## Porque essa resistência? + +No mundo do software, existem os softwares de código aberto, que em +teoria permitem que um usuário possa além de ler o código fonte, +modificar e distribuir uma derivação do projeto original. Os aplicativos +Android e iOS da Signal são aplicativos de código aberto. De forma +geral, quando um aplicativo de código aberto está tomando decisões +erradas ou andando por linhas tortas, um grupo de desenvolvedores pode +clonar o projeto (fazer um fork) e então seguir o seu caminho. Isso +acontece quase que diariamente e é uma das grandes armas do +desenvolvimento de software livre. Entretanto, a Signal já deixou bem +claro que isso não é algo que eles querem que aconteça e que seja feito, +afinal a comunicação do Signal passa por servidores centralizados. + +## Confiança e Federação + +Veja bem, um sistema seguro de fato, não precisa que você _confie_ no +provedor desse sistema. Dado isso, você precisa confiar que o Moxie está +rodando o servidor da forma que eles dizem que estão rodando [^10]. Você +precisa confiar que eles não estão copiando uma lista de conversas que +você manteve, por quanto tempo e como. Além do fato, de ter que confiar +que se o Signal receber uma notificação da NSA esses dados não vão ser +repassados para a agência. Acima de tudo precisa lembrar que os +servidores do Signal, estão localizados justamente... nos EUA. A terra +da liberdade pode tudo, inclusive [espionar outros países][^11] +e seus próprios cidadões. A Signal pode nos dizer que esses dados não +são guardados, mas eles não podem nos garantir que não seria possível +fazer isso. + +[^10]: Apesar dos aplicativos do Signal possuirem um código aberto, os + servidores não são. +[^11]: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/09/130908_eua_snowden_petrobras_dilma_mm + +Dado esse cenário de desconfiança e dúvida, o comportamento da Signal +poderia ter uma saída, que é a Federação, ou seja, passar por um +protocolo aberto e padronizado. + +Serviços Federados[^12], como por exemplo email, permitem que eu possa +enviar um email do meu próprio domínio (@eletrotupi.com) para, por +exemplo, a você no seu provedor de email (@meudominio.com.br). Aplicando +esse conceito, tornaria possível, que eu possa instalar o Signal na +minha própria máquina e me comunicar com outros servidores do Signal, +distribuindo a comunicação e mitigando os riscos de segurança. +Perpassando a mensagem em diversos outros operadores, inclusive em +diversos outros países com suas próprias leis de dados (ou não). Isso +torna mais difícil (mas não impossível), por exemplo os Estados +Unidos possa simplesmente bater na porta do Signal e apreender os +servidores. + +Federar, também ajudaria a lidar com o vácuo que existe entre outros +diversos protocolos e serviços de comunicação de código aberto, afinal +todos falariam na mesma língua ou dado que fosse possível, converter +entre eles. + +Moxie e a Open Whisper, hoje não permitem que você possa distribuir +outros binários do aplicativo do Signal, e inclusive proíbe você de usar +os servidores deles para armazenar as conversas. Justamente pelos +servidores dele não fazerem parte de um protocolo federado, **derivações do +Signal não conseguem conversar com usuários do Signal**. + +Veja como é o esquema, nenhuma derivação do Signal funciona, apesar do +código-fonte ser aberto. As diversas reclamações ou críticas do projeto +são ignoradas, apesar de usuários poderem corrigir falhas e sugerir +melhoras (o que a Signal aproveita com alegria) e os dados são +centralizados em um servidor que só eles tem acesso, do qual +é localizado dentro do _império que pode tudo_. Nenhum projeto de +derivação do Signal conseguiu ganhar tração [^13] e nunca vai, afinal +você não pode conversar com usuários do Signal. Inclusive, sequer +existem aplicativos de terceiros que possam interagir com o Signal. +Signal pode oferecer os argumentos que eles quiserem, mas todos só +servem de desculpas para que eles permitam ter _um sistema que age da +forma que eles querem, para servir os interesses deles_. + +[^12]: Para um projeto "Federar" ele tem que ter um protocolo aberto + e publicado como um padrão, como + o [HTTP](https://tools.ietf.org/html/rfc2616) (que permite que a Web + exista). + +[^13]: Veja o [LibreSignal](https://github.com/LibreSignal/LibreSignal) + +Com certeza esses são problemas complexos e difíceis de serem +resolvidos. Mas a gente tem diversos exemplos de projetos abertos que +resolveram problemas similares de forma coletiva, com menos de 1/3 do +apoio financeiro que o Signal possui. + +## Alternativas + +O fato é que, se você precisa se comunicar de forma privada/protegida, +é muito difícil. É amplamente difundido o WhatsApp no Brasil, +e o Signal/Telegram são umas poucas alternativas conhecidas e populares +aqui na nossa terrinha tropical. Existe ainda, por exemplo +o [Matrix](https://matrix.org), que é um dos poucos que tem um modelo +federado e é passível de hospedar de forma pessoal, permitindo que eu +possa ter um servidor na minha máquina em casa, ou que uma organização +política possa disponibilizar para sua militancia. Email ainda é uma das +melhores opções, pela sua plasticidade, federação, inúmeras +implementações dos agentes de protocolo e poder de criptografia +(eu imploro, parem de usar o Google ou o Hotmail). + + +Gosto muito desse conceito de que "não existe espaço vazio" na política, +e acho que ele se aplica bem no caso da Signal. Essa resistência +oferecida pela Signal quando colocada frente-a-frente com seus +argumentos revelam que essas decisões na verdade não são por ingenuidade +da empresa, tampouco são escolhas feitas porque _é o certo a se fazer +para garantir a segurança dos usuários_ mas sim porque elas servem aos +interesses da empresa de uma forma que não fica muito claro. Alias, +o que será que a Signal fez com aqueles 50 milhões de dolares? + diff --git a/content/blog/sobre-o-bem-da-terra.md b/content/blog/sobre-o-bem-da-terra.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..528ed0be70d02eed287a394d931f6fc7cb411dfc --- /dev/null +++ b/content/blog/sobre-o-bem-da-terra.md @@ -0,0 +1,45 @@ +--- +title: "Sobre o Bem da Terra" +date: 2020-09-20 +tags: ["bem-da-terra", "reflexao"] +--- + +Ontem (19 de Setembro), participei do primeiro Encontrão [^1] enquanto membro +da Coordenação da Feira Bem da Terra [^2]. Minha taref + +[^1]: Espaço soberano e autoorganizado de encontro dos Consumidores, + Produtores e Associados para debater e definir as questões da Feira. + +[^2]: O Bem da Terra é um GCR, ou seja, Grupo de Consumo Responsável na + cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. + +Apesar de já ter participado de inúmeras reuniões no trabalho, a reunião +da coordenação de um espaço alternativo é muito diferente. Exige +organização de verdade, justamente porque a lógica do espaço +é diferente. + +O Bem da Terra se propõe a ser um espaço autogestionário, democrático +e fundamentado na lógica da economia solidária, mas eu sinto que é muito +além disso. A feira acaba por se tornar um espaço, muito para além do +consumo, mas sim para a formação crítica. + +Sim, formação crítica. Justamente por ter em _terra firme_ um espaço +da qual se propõe a pensar um modelo diferente, mais justo e correto, +que propõe que você repense a lógica existente na tua vida. Não é mais +uma perspectiva abstrata. Ela existe. É real e tá nas tuas mãos. + +E as indas e vindas, reforçam ainda mais o caráter de construção, de que +é um processo que é necessário meter a cabeça, construir junto. + +Então acaba por não ser só um espaço de comercialização, mas de +_educação e formação política_, de explorar aquilo que nos _deixa +desconfortável com o que está posto aí_, e que a gente precisa +_construir colaborativamente_. + +Trabalhar na feira é trabalhar escorado na construção coletiva, na +autoorganização, na autonomia. Trabalhar no Bem da Terra nos dá gosto, +dá aconchego na alma e faz me sentir que o trabalho _precisa ir além do +que ele é hoje_. Me da a munição necessária pra _arriscar pensar outras +formas de viver_ e de _criticar como ela é hoje_. + +Obrigado, Bem da Terra. diff --git a/content/blog/sobre-processos.md b/content/blog/sobre-processos.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..9d54d2a8ce551f5b3ce9045b9c5931e00bf5402b --- /dev/null +++ b/content/blog/sobre-processos.md @@ -0,0 +1,43 @@ +--- +title: "Sobre Processos" +date: 2020-05-01 +tags: ["gerencia-de-projetos"] +--- + +Processos não significam uma desnecessária burocrátização sobre as +tarefas de um time/equipe/comitê. Na verdade, os processos servem apenas +como guias de como funciona o _fluxo_ e descreve melhor como se dá a +eficiencia do trabalho cotidiano daquele grupo de pessoas. Essa definição não +é algo ruim e criar processos não deve ser um peso, assim como executá-los +também não. Mas a inerente falta deles, acanta um défict e vulnerabiliza as +pessoas envolvidas com o trabalho. + +Novamente, é o trabalho de um +[gerente](https://porcellis.com/gerente-de-projetos) de analisar as +equipes que trabalham naquele projeto e esquematizar mais sobre ele +e como que pode-se trabalhar de forma mais eficiente, alocando processos +de eleição (no caso de espaços auto-gestionados) ou elegendo representativos +(no caso de espaços de trabalho hierárquico) para serem as pessoas responsáveis +por certos setores daquela equipe. + +Alocar alguns "cargos" ajudam a distribuir o trabalho necessário, +e também criam pontos de referencias dentro da equipe para que não +afogue ninguem com demandas insustentáveis para uma pessoa só. +Entretanto, é necessário que essas pessoas tenham papéis e rotinas de +trabalho bem definidos. + +Dado esse cenário, é necessário uma boa e eloquente articulação com os +envolvidos. Aliás, _articulação e organização_, como eu já +bem defendi é o elemento mais essencial de quaisquer tipo de gestor. +Não se precisa inventar "novas formas de trabalhar" para ter uma +comunicação e distribuição de trabalho eficiente. Basta alocar o que +cada pessoa está fazendo, marcar reuniões de forma publica +e transparente em calendarios, reunir a informação sobre o que foi +discutido em uma determinada reunião. Retransmitir para pessoas que +estiverem ausente de alguma reunião de forma pública quaisquer informação +sempre que for definida. + +Criar processos deve ser entendido em determinar _como_ que se deve trabalhar, +_mas sem escrever sobre pedra_. Permitir flexibilizações e adaptações a uma +rotina de trabalho é o que evita que processos se tornem burocracias +desnecessárias que apenas enforcam as pessoas envolvidas. diff --git a/content/blog/vegetarianismo.en.md b/content/blog/vegetarianismo.en.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..663868839564eede4aaa0b806fb63d0d5a8b7f9c --- /dev/null +++ b/content/blog/vegetarianismo.en.md @@ -0,0 +1,82 @@ +--- +title: "On Vegetarianism" +date: 2021-03-18 +tags: ["essay", "vegetarianism"] +--- + +In 2021 concluded one year that I have stopped eating meat. It has been a very +interesting experience, bringing along nice reflections. + +At my family, meat was always really significative and present. To most people, +having meat at the table is directly attached to the idea of having food, +"having something to eat". This idea is introjected unto our lives way before we +born, and specially living at the South of Brazil, is expected that the act of +eating meat as something daily [^1]. Actually, I didn't actually see much of +point in *not eating meat*. When that idea started to enter my mind, and I slowly +started to get more familiar with the idea of vegetarianism, I started with the +more simple act possible, I join the "Meatless Monday" movement, which I failed +miserably. Still couldn't drop the idea of eating meat, couldn't barely think +about other meals which didn't have meat, or at least I always had this feeling +that it "wasn't the same thing". + +[^1]: Rio Grande do Sul, the state I live and was born is well known for being + the "king of barbecue", local and international contests and other forms of + events happens to celebrate the tradition of making barbecue. + +My turnaround, was in fact pretty curious, at a monday evening I decided to +order a cheeseburguer from a unfamiliar place and it was enough. I spent the +whole week with food poisoning. That not being enough for me, on that same +Friday I went to a barbecue and for some reason I thought that "well, I'm +feeling better already, it has been a week almost". Needless to say that I went +to the hospital that morning, from mixing beer and LOTS of meat. The doctor that +attended me said, short and straight: _"until you finish taking these meds, no +meat and no heavy stuff_. That friday was the last time I ate meat. + +The transition, If I can call it so, was in fact pretty seamless. Today, a +year later, there have been few times I actually craved something with meat +after feeling the smeel from some neighbour cooking, I think most are +rememberances from afective memories. The greatest and most effective point I +think that helped through this trasition was that I saw the opportunity to *not +only stop eating meat, but to rethink my eating as a whole. + +I had some debates with some colleagues and friends of mine, and one of the +things that seems pretty pointless to me, is seeking for foods that bear +ressemblance with meat. Sometimes made out of plants, filled with chemicals, +industrialized and canned food or even "hamburguers" made in labs, or worse yet, +search experiences "like eating meat". That math don't check to me. Stop eating +meat, at least to me, is way beyond that. It's look at chains of supply and +production, it's think on agroecology, in organic food at a fair and reasonable +price for both the consumer and the producer. It's thinking about the crossing +chain to that food to reach your pan. It's think about food politic as a whole, +in eating things different and differently. Eating more typical, local food, +food from the current season, and so on and so forth. Explore other foods and +other way to eat. Being part of the [Bem da Terra][bem-da-terra] gives me the +opportunity to see those things happen in practice and debate to construct +alternatives. + +[bem-da-terra]: https://porcellis.com/sobre-o-bem-da-terra + +I'm getting ready to do a more complex and profound transition, at least to me, +that is remove my consume from animal products as a whole. I consider that +harder, so it needs a better organization and a more thoughtful work. It has +been a lot easier following the work and discussions from some inspiring people, +notably: [Ruan Félix][ruan], [Vitor][vegano.vitor], the blog and podcast of +[Juliana Gomes (Health Food for Everyone)][comidasaudavelparatodos], the feed of +[Luciele Santos][sapavegana], [Ju Couto][veganapratica], [Carla +Candace][carla.candace], [Vegano Periférico (Periferic +Vegan)][veganoperiferico], [Movimento Afro Vegano (Afro-Vegan +Movement)][movimentoafrovegano] and the [União Vegana de Ativismo (Vegan +Activism Union)][uniao] it's some of the indications I leave for to the reader, +specially to think about within different approaches and backgrounds, althought +keeping a common sense of veganism for a more local, accessible, inclusive form +of political activism. + +[ruan]: https://www.instagram.com/ruan.felixs +[vegano.vitor]: https://www.instagram.com/vegano.vitor +[comidasaudavelparatodos]: https://www.instagram.com/comidasaudavelpratodos/ +[veganoperiferico]: https://www.instagram.com/veganoperiferico/ +[movimentoafrovegano]: https://www.instagram.com/movimentoafrovegano +[veganapratica]: https://www.instagram.com/veganapratica +[sapavegana]: https://www.instagram.com/sapavegana +[carla.candace]: https://www.instagram.com/carla.candace +[uniao]: https://www.instagram.com/uniaoveganadeativismo diff --git a/content/blog/vegetarianismo.pt-br.md b/content/blog/vegetarianismo.pt-br.md new file mode 100644 index 0000000000000000000000000000000000000000..71ceafb8747143771ba7f602d11fb71a077a1246 --- /dev/null +++ b/content/blog/vegetarianismo.pt-br.md @@ -0,0 +1,75 @@ +--- +title: "Vegetarianismo" +date: 2021-03-18 +tags: ["reflexao", "vegetarianismo"] +--- + +Em 2021 fechou um ano que eu parei de comer carne. Tem sido uma experiência +muito interessante, de boas reflexões. + +Na minha familia a carne sempre foi bastante significativo e presente. +Para a maior parte da população, carne, tem um significado de "comida de +verdade". Ter carne na mesa, é igual _a ter o que comer_. Essa ideia é +introjetada na nossa vida, e morando no Sul do Brasil, é de se esperar +que o ato de comer carne fosse algo rotineiro. Eu, muito pelo contrário, +não via muito sentido na ideia de parar de comer até uns cinco anos +atrás. Quando essa ideia começou a lentamente entrar na minha cabeça, e +comecer a me interessar pelo assunto, comecei pelo mais simples +movimento, durante um tempo o tal "Segunda sem Carne", e do qual falhei +miseravelmente. Ainda não conseguia tirar da minha cabeça a ideia de +comer carne, não conseguia pensar em outros alimentos do qual não +tivesse carne, ou então não sentia que eles "eram a mesma coisa". + +A minha virada, foi até curiosa, numa segunda-feira eu pedi um +hamburguer de um lugar desconhecido, e foi o suficiente. Passei a semana +com intoxicação alimentar. Não satisfeito, na mesma sexta-feira eu fui +em um churrasco e pensei "bom, eu já to melhor, acho que vou +aproveitar". Não preciso dizer que passei a madrugada muito mal, a +mistura de cerveja e carne não foi a das mais inteligentes, tanto que eu +precisei ir no hospital. A médica que me atendeu me disse, curto e +gross +pesadas_. Naquela sexta-feira foi a ultima vez que comi carne. + +A transição, por assim dizer, foi tranquila. Hoje, um ano depois, poucas +vezes me pego desejando algo com carne, resquícios de memórias afetivas. +O ponto que eu acho que foi o mais importante e que fez efeito, é que eu +nisso a oportunidade de não é apenas deixar de comer a carne mas de +repensar a alimentação como um todo. + +Tive alguns debates com colegas e amigos meus, e uma coisa que ainda não +me parece fazer muito sentido, é buscar alimentos *iguais* a carne, mas +feito de plantas, industrializados cheios de quimicos, ou "hamburguers" +feito em laboratório ou ainda buscar experiências "como a de comer +carne". Essa conta pra mim não fecha. Parar de comer carne, pra mim, é +além disso. É voltar a atenção para cadeias de produção, é pensar em +agroecologia, em alimentos organicos e vendidos a um preço justo. É +pensar na cadeia de atravessamento do alimento até a tua panela, é +pensar na política alimentar como um todo, em comer coisas diferentes, +comidas típicas brasileiras, comidas da estação, e por ai vai. Explorar +outros alimentos e outra alimentação. Participar do [Bem da +Terra][bem-da-terra] me da oportunidade de trabalhar muito próximo +disso, e ver isso acontecer na prática, debater esse tipo de construção. + +[bem-da-terra]: https://porcellis.com/sobre-o-bem-da-terra + +Estou preparando uma transição mais complexa, pra mim, que é remover +alimentação e produtos animais da minha vida por completo. Considero +isso mais difícil, justamente porque é uma mudança muito mais profunda e +portanto relativamente mais complicada. Também ajudou bastante seguir +páginas de discussões sobre esses assuntos como o chef de cozinha [Ruan +Félix][ruan], [Vitor][vegano.vitor], o blog e podcast da [Juliana +Gomes][comidasaudavelparatodos], o feed da [Luciele Santos][sapavegana], +[Ju Couto][veganapratica], [Carla Candace][carla.candace], [Vegano +Periférico][veganoperiferico], [Movimento Afro +Vegano][movimentoafrovegano] e a [União Vegana de Ativismo][uniao] é algumas das indicações que eu deixo pra +se aproximar do assunto sob diversas óticas. + +[ruan]: https://www.instagram.com/ruan.felixs +[vegano.vitor]: https://www.instagram.com/vegano.vitor +[comidasaudavelparatodos]: https://www.instagram.com/comidasaudavelpratodos/ +[veganoperiferico]: https://www.instagram.com/veganoperiferico/ +[movimentoafrovegano]: https://www.instagram.com/movimentoafrovegano +[veganapratica]: https://www.instagram.com/veganapratica +[sapavegana]: https://www.instagram.com/sapavegana +[carla.candace]: https://www.instagram.com/carla.candace +[uniao]: https://www.instagram.com/uniaoveganadeativismo